(Marie Claire, 07/07/2014) Um pequeno vilarejo onde são as mulheres que estão no comando. Parece ficção, mas não é. No nordeste da Índia, país onde um novo caso de estupro é registrado a cada 22 minutos, segundo dados do National Crime Records Bureau, há um lugar em que é a lei das mulheres que impera.
No estado indiano de Meghalaya, mais precisamente numa pequena comunidade chamada Mawlynnong, a estrutura familiar é até hoje matriarcal – e as regras por lá são ditadas por elas.
Difícil acreditar que a tradição persista em uma Índia em que o estupro é o crime mais comum contra a mulher. Só para se ter uma ideia, o estupro no casamento, quando há relação sem o consentimento da mulher, não é penalizado.
Foi em busca de estudar uma estrutura matriarcal em um país de cultura tão fortemente machista que a fotógrafa alemã Karolin Klüppel, 29, se mudou para o vilarejo. “Eu fui para Mawlynnong porque queria explorar as tradições da tribo Khasi e fazer um projeto de fotografia”, conta ela.
Karolin passou seis meses na comunidade com cerca de 500 habitantes. O resultado dessa imersão pode ser visto na série Mädchenland composta por 18 fotos. “Estou muito interessada nas sociedades que revelam outra relação de gênero ou que possuam uma compreensão do amor diferente da que eu conheço”, explica.
“As meninas de Mawlynnong me parecem muito independentes e poderosas. Eu acredito que isso acontece porque os pais delegam muitas responsabilidades às filhas e filhos, que desempenham um papel importante na vida familiar desde jovens”, explica a fotógrafa.
EXCEÇÃO À REGRA
A disparidade entre o mundo feminino e masculino na índia é tamanho. Em pesquisa realizada pelo instituto americano Centre of Research on Women constatou-se que 20% dos homens indianos admitiram terem forçado suas esposas a ter relações sexuais.
“Eu apreciaria bastante se mais indianos conhecessem a tradição da tribo Khasi”, diz Karolin quando questionada sobre os direitos das mulheres na Índia. “Tenho a impressão que o resto do mundo não leva em conta a riqueza cultural das minorias indianas”, alerta.
Restrita, a realidade da tribo Khasi fica à margem de uma Índia onde os casos de estupro povoam os noticiários. Na última semana, por exemplo, duas garotas, uma de 14 e outra de 16 anos, foram estupradas e mortas na cidade de Lucknow.
O ataque contra a estudante de medicina de 23 anos, em dezembro de 2013, fez a população de Nova Deli ir às ruas. Violentada por seis homens, por quase uma hora, a garota foi espancada com uma barra de ferro e jogada de um ônibus em movimento. Uma semana após ficar internada, ela não resistiu.
“Eu não posso vestir o que eu quero, eu não posso ir aos lugares sem que os homens me olhem… Onde está minha liberdade?”, se perguntava uma garota indiana durante as manifestações organizadas depois da morte da jovem de 23 anos.
Foi assim que a discussão sobre os direitos das mulheres na Índia ganhou força. E a pressão da opinião pública foi tamanha que o caso rapidamente foi apurado pela polícia local – quatro dos seis acusados foram condenados à morte.
Enquanto o cenário na Índia continua longe do ideal, Karolin lembra que “a melhor maneira de vivermos juntos seria em uma sociedade com total igualdade de gênero”.
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