(O Globo, 10/07/2014) Mais um crime homofóbico teria acontecido na semana passada no Rio. A DJ Carla Ávila conta, em um depoimento publicado no Facebook, que, na última sexta-feira, logo após o jogo do Brasil contra a seleção da Colômbia pela Copa do Mundo, ela foi agredida em Ipanema devido à sua orientação sexual. Para mostrar repúdio à violência contra a comunidade LGBT, será realizado, nesta quinta-feira, às 18h, um Beijaço Lésbico em frente ao Bar 20, em Ipanema, onde a artista foi agredida. O ato é organizado pelo movimento feminista Bastardxs, liderado por ex-integrantes do Femen Brasil.
Carla passava pelo Bar 20, na esquina da Rua Henrique Dumont e com a Avenida Visconde de Pirajá, enquanto discutia com a namorada, logo após o jogo, quando um homem que estava sentado à uma mesa se levantou e caminhou em sua direção desferindo ofensas de cunho homofóbico.
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“O sujeito (…) levantou da mesa ao ver eu e minha namorada passando em frente ao bar (…) gritando ‘sapatão’. (…) foi na minha direção começando a agressão com um tapão no ouvido, com força o suficiente para romper meu tímpano e eu cair no chão”, relatou a vítima na rede social.
O homem ainda teria dado chutes na cabeça de Carla, enquanto ela estava caída no chão, provocando contusões na cabeça, nos dedo da mão e próximo ao cotovelo. Segundo a DJ, os clientes do bar, que estava lotado, nada fizeram para ajudá-la.
“Levantaram, aplaudiram e assobiaram. Tiraram fotos e fizeram filmagens. Ninguém fez nada! O agressor voltou ao bar pagou a vonta e fugiu”, disse no depoimento online.
Carla registrou a ocorrência na 14ª Delegacia de Polícia, no Leblon, que já está investigando o caso. A delegada Monique Vidal instaurou inquérito e está avaliando imagens capturadas por câmeras de segurança da região onde o fato foi registrado. Segundo ela, a expectativa é que os autores sejam facilmente reconhecidos.
– Assim que identificarmos os envolvidos, eles serão chamados para prestar depoimento. Mas nada justifica uma agressão gratuita e homofóbica. Sou contra qualquer tipo de agressão e preconceito – afirmou.
O Núcleo de Defesa da Diversidade Sexual e Direitos Homoafetivos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro também está acompanhando o caso, como assistente de acusação. De acordo com a coordenadora do departamento, Luciana Mota, os relatos da vítima chamam atenção pela covardia.
– É uma mulher de 1,6 metro, que foi fortemente agredida e está cheia de lesões pelo corpo – frisou.
Luciana chamou atenção para a frequência com que esse tipo de crime vem se repetindo. Segundo ela, o núcleo recebe, em média, dez denúncias agressões por motivo presumido de homofobia por semana.
– Esses casos são muito comuns, mas muitas pessoas ainda não fazem ocorrência. Mas é muito importante que as pessoas busquem seus direitos diante de crimes como este – alerta.
A vítima também formalizou uma denúncia na Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS), que, após solicitar à CET-Rio imagens da Rua Paul Redfern e da Avenida Visconde de Pirajá, e ouvir a testemunha que estava presente no local, intimará o Bar 20 para apresentar sua defesa por suposta infringência à Lei 2475/1996 que pune estabelecimentos comerciais que discriminem cidadãos por conta de sua orientação sexual.
Em nota publicada em sua página oficial na internet, o Bar 20 afirma que “não ocorreu, em hipótese alguma, qualquer ato de agressão nas dependências do estabelecimento” nem na frente dele, “pois caso houvesse, os responsáveis pelo estabelecimento não hesitariam em contatar as autoridades públicas, inclusive a policial e a do corpo de bombeiros”. O bar também se colocou disponível para esclarecimentos às autoridades e disse repudiar “qualquer forma de preconceito e/ou discriminação, como de raça, cor, crença, religiosa, idade, sexo, convicção política, nacionalidade, estado civil, orientação sexual, condição física e/ou outras necessidades especiais”.
O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) publicou em sua página um texto de apoio à Carla Ávila e informou que está acionando também a OAB e levando o caso de agressão à Comissão de Direitos Humanos da Alerj e à Comissão De Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, da qual faz parte.
“É imprescindível que este tipo de violência dura que atinge exclusivamente a população LGBT deixe de ser ignorada pelo poder público em um país que possui o amargo título de ser campeão de assassinatos de pessoas LGBT em todo o mundo. E que as pessoas que aplaudem essa barbárie pensem que, no lugar daquele casal, poderiam estar parentes e amigos seus”, escreveu o deputado.
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