(Época) O que leva o cinema a investir na violência sexual? Em sua coluna semanal no site da revista Época, o jornalista Luís Antônio Giron procura explicar a onda de filmes com cenas de estupro. “Fiz uma busca no site IMDB com a palavra “rape” (estupro em inglês) e o resultado foi 2711 títulos.”
No texto Giron analisa a questão a partir de dois filmes: o argentino O segredo de seus olhos, de Juan José Campanella, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009, e o dinamarquês Os homens que não amavam as mulheres, do diretor Niels Arden Oplev. Após descrever a abordagem que cada filme faz da violência sexual, o jornalista recorre a Aristóteles e sua leitura do fenômeno da catarse para dizer que, no caso do estupro cinematográfico, ele não crê que o efeito produzido no espectador seja o de “purgação dos desejos”:
“Por mais que resista por saber que se trata de ficções, o espectador acaba se deixando levar pelo enredo e, talvez, involuntariamente, conduzido a uma situação-limite que poderia ser real. É o que Aristóteles denomina catarse, de purgação dos desejos por meio de um mecanismo de transferência, para usar um termo mais moderno. Durante o processo, sacrificamos, somos sacrificados e, por último, atingimos a purificação. A operação teria um fundamento pedagógico, e resultaria em bom comportamento social. Não estou tão certo disso. Entre o mistério que se apresenta e a possível remissão dos pecados, o caminho me parece tempestuoso. Entre um e outra, existe o apelo da transgressão. O cinema atual induz o espectador a fantasias proibidas, e entre elas tem enfatizado a do estupro. Ora, o estupro como atração erótica é uma distorção. Para mim, estupro é sexo ruim, mesmo em fantasia. Não há tema vedado à arte, se ela é grande. Agora, porém, os diretores têm confundido a exploração do interdito com excelência estética. O resultado só pode ser o rebaixamento dos sentidos – e da reflexão.”
Acesse esse artigo na íntegra: O fascínio do estupro – por Luís Antônio Giron (Época – 04/05/2010)