(Paraná Online, 28/07/2014) No dia cinco de outubro, homens e mulheres com idades entre 18 e 70 anos devem comparecer a uma seção eleitoral para escolher presidente, governadores, senadores e deputados que governarão o Brasil pelos próximos anos. Mas exercer esta obrigação cívica, que para alguns pode parecer um ato corriqueiro, é para as mulheres consequência de uma luta histórica, um direito conquistado após muitas brigas e esforços.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há registros de que a luta pelo direito ao voto feminino começou no século 19, antes mesmo da Proclamação da República. Mas o marco inicial da participação das mulheres na política brasileira é de 1927, em Mossoró (Rio Grande do Norte), com a professora Celina Guimarães Viana. Ela foi a primeira mulher a solicitar a inclusão de seu nome na lista de eleitores de sua cidade, com base na lei eleitoral de 1926, que determinava que no estado “todos os cidadãos poderiam votar e ser votados, sem distinção de sexos”. Após iniciativa de Celina, mulheres de outras cidades se alistaram como eleitoras e em 1929, o estado nordestino elegeu, na cidade de Lajes, Alzira Soriano como a primeira prefeita do Brasil.
Foi somente em 24 de fevereiro de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, que as brasileiras de todos os estados puderam votar e serem votadas. Isto aconteceu após intensa campanha nacional realizada pelas mulheres. Mesmo assim, este direito era garantido apenas para parte do público feminino: podiam votar mulheres casadas com autorização do marido, viúvas e solteiras com renda própria. As restrições foram eliminadas em 1934 e a obrigatoriedade do voto feminino veio só em 1946.
O Brasil foi um dos primeiros a conceder o direito de voto às mulheres. Na França e na Argentina isto só aconteceu na década de 1940. Portugal e Suíça só instituíram o voto feminino a partir de 1970.
Ao longo destes 82 anos em que as mulheres conquistaram o direito ao voto, elas passaram, aos poucos, a ocupar mais espaço na politica brasileira. Hoje há mulheres em todos os cargos eletivos. Além da Presidente da República, exercem mandato duas governadoras, 11 senadoras, 45 deputadas federais e 134 deputadas estaduais. Números ainda tímidos se comparados com a presença masculina nos cargos políticos.
Avanços foram frutos de batalhas
Para a professora Sandra Maria Mattar, coordenadora do curso de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a mulher sempre teve um papel subalterno em relação ao homem, tantos em aspectos políticos como sociais. “A sociedade brasileira foi formada com base em um modelo patriarcal, em que a família e as decisões seguiam os comandos da figura paterna”, diz. “O papel feminino era de cuidar da casa e dos filhos. A situação de submissão e de falta de direitos foi mudando aos poucos com a entrada da mulher no mercado de trabalho, principalmente após a Segunda Guerra Mundial”, afirma.
Ela destaca que todos os avanços foram frutos de batalhas. “O direito a votar e a ser eleita na década de 30 foi conseguido após intensas lutas encabeçadas por grupos de feministas, que brigavam pela participação na vida política das cidades e do país”, explica.
Sandra avalia ainda que foram conquistados importantes avanços neste curto período histórico, mas ainda há muito a ser feito para melhorar a condição da mulher. “A situação está melhor, mas ainda não estamos em um patamar satisfatório em relação à presença ou a conquista do poder por parte das mulheres. Situações como ter uma presidente mulher deveriam ser vistas de maneira natural e não como algo especial e surpreendente”.
Experiência centenária
Com 101 anos de idade, uma das eleitoras mais antigas de Curitiba já está com seu título de eleitor pronto, apenas aguardando para o dia da votação. Nascida em 1913, na Alemanha, e moradora da capital paranaense desde seus 14 anos de idade, Luzia Agathe Juliana Barz acompanhou de perto os primeiros passos das mulheres no cenário político.
“Lembro que antigamente a mulher não andava sozinha na rua, sem a companhia do marido, do pai ou de outro familiar. E para votar era a mesma coisa, a mulher era acompanhada de perto por seu marido no dia das eleições. Comigo foi assim por muitos anos”, conta
Ao longo de seus muitos anos de experiência Luzia faz questão de ler seu jornal diariamente e assistir aos noticiários na TV, tendo inclusive o jornalista Alexandre Garcia como seu comentarista favorito. “Hoje a mulher tem mais liberdade, mas mesmo não podendo ir sozinha a todos os lugares, eu levava uma vida boa. O que eu lembro é que antes tudo tinha mais qualidade: a educação, o transporte, o atendimento médico e até as calçadas. Isso tudo está pior hoje em dia. Mas parece que o povo não pensa nisto antes de votar. Devemos pensar mais e escolher governantes mais capacitados. Não é porque sou mais velha que não tenho esse esclarecimento”, alerta a eleitora.
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