09/05/2010 – Meio século após a pílula, metade das gestações não é planejada pela mãe (Estadão)

10 de maio, 2010

(O Estado de S. Paulo) Dentre as várias reportagens acerca dos 50 anos que se passaram desde o lançamento da pílula anticoncepcional, merece destaque matéria de página inteira produzida pelo Estadão. Além de contar a história da criação do método contraceptivo nos EUA, a reportagem relaciona o acesso à pílula ao direito de ter uma gravidez quando desejada.

“Quase a metade das gestações nos EUA e dos nascimentos no Brasil ocorre quando as mulheres não querem, apesar da expansão do método que mais permite independência na contracepção e de sua contribuição para a redução das taxas de fecundidade. A chegada da pílula permitiu que muitas mulheres fossem mães melhores, avançassem nos estudos e no trabalho e separassem definitivamente sexualidade e reprodução“, diz a reportagem.
 
A matéria do Estadão informa que 46% dos nascimentos no Brasil não são desejados ou são planejados para mais tarde, segundo dados da última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), feita pelo IBGE em 2006. A pesquisa revelou também que 81% das mulheres entre 15 a 49 anos, que viviam alguma forma de união, usavam anticoncepcional. A esterilização feminina (laqueadura) continua a ser a opção mais frequente (29%). Contudo, somados o uso da pílula (25%), com o dos anticoncepcionais injetáveis e do DIU, os métodos reversíveis estão em primeiro lugar.

“Houve um enorme avanço na oferta de anticoncepcionais no Sistema Único de Saúde, há pílulas a preços populares, mas o uso ainda é mal orientado. A mulher não é instruída sobre eventuais efeitos colaterais, não recebe suporte para a contracepção, precisamos de tempo para caminhar”, comenta a demógrafa Ignez Perpétuo, responsável pelo módulo sobre métodos contraceptivos da PNDS e professora da Universidade Federal de Minas Gerais.

“Se temos ainda 46% (de filhos que não eram esperados), é porque o acesso não é de acordo com a lei”, critica Elisabeth Vieira, do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto. O direito a métodos contraceptivos está na Constituição e foi regulamentado por lei em 1996.

Feministas contra e a favor

Em 1912, a enfermeira de família católica irlandesa Margaret Sanger – que viu a mãe morrer após 18 gestações – já defendia a criação de um contraceptivo, mas a ideia só seria viabilizada 48 anos depois, com financiamento da amiga e feminista Katharine McCormick.

“Antes, além da discriminação, as mulheres tinham de controlar a própria sexualidade ou se arriscar em um aborto. Houve avanço, redução da fecundidade. Mas só o fato de a contracepção ser um assunto feminino denota a desvalorização da sociedade. É coisa de mulher. E coisa de mulher não é levada a sério”, diz Elisabeth Vieira.

A pílula chegou ao Brasil em1962. Iniciamente houve muita desconfiança por parte do movimento feminista, que temia os efeitos colaterais sobre a mulher e uma possível tentativa de controle populacional, estimulada pelos Estados Unidos, que achavam que um crescimento populacional sem controle poderia contribuir para uma revolução comunista na América Latina. Segundo a reportagem, as feministas chegaram a se aliar à Igreja Católica para combater o método.

“Enquanto em países como a França a pílula só foi liberada para consumo em 1967, no Brasil a pílula anticoncepcional e o DIU foram comercializados sem entraves desde o início da década de 60. (…) Em locais onde a cidadania era respeitada, como na França, a chegada da pílula coincidiu com transformações nas relações de gênero, com mais espaço para a mulher na sociedade.”

A reportagem inclui um artigo em que André Junqueira Caetano, coordenador do Grupo de Fecundidade e Comportamento Reprodutivo da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), afirma que a evolução do uso de métodos contraceptivos no Brasil está associada às transformações econômicas, sociais e culturais das últimas décadas.

“Nesse período, a maioria dos brasileiros passou a residir em áreas urbanas, o acesso à educação se expandiu, as mulheres entraram maciça e definitivamente no mercado de trabalho, as telecomunicações – em especial, a
televisão – integraram o País e a medicação da sociedade desidratou, no âmbito da reprodução, os poderes paternos, maritais e religiosos. O aumento da demanda por regulação da fecundidade configura-se, assim, como uma das mudanças do quadro de transformação modernizante da sociedade.”

Leia essa matéria na íntegra: Meio século após a pílula, metade das gestações não é planejada pela mãe (O Estado S.Paulo – 09/05/2010)

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