Grupo faz manifestação contra assassinatos de mulheres em Goiânia

07 de agosto, 2014

(G1, 07/08/2014) Cerca de 50 pessoas se reuniram na manhã desta quinta-feira (7) em frente ao Palácio Pedro Ludovico Teixeira, sede do Governo de Goiás em Goiânia, para protestar contra a violência e o assassinato de mulheres na capital. Uma força-tarefa da Polícia Civil investiga 18 crimes com características semelhantes, sendo 15 contra mulheres, que geraram a suspeita de que um assassino em série estaria agindo em Goiânia nos últimos meses. A polícia não crê na existência de um “serial killer”, mas também não descarta a possibilidade.

Durante o evento, o grupo coordenado pelo Fórum Goiano de Mulheres criticou a “ineficiência do poder público” na prevenção e na resolução desses crimes. “Nós não acreditamos que há uma deliberação política de vencer a violência em Goiás. Pelo contrário, existe uma cultura de grupos de extermínio e isso tem acontecido recorrentemente: [foram vítimas] moradores de rua, adolescentes, mulheres envolvidas com tráfico de drogas ou jovens negros e agora essas jovens mulheres que não têm nenhuma explicação dada pela Secretaria de Segurança”, afirma Kelly Gonçalves, coordenadora política do Fórum.

A cidade de Goiânia aparece na 28ª posição em um ranking, elaborado pela ONG mexicana Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, das cidades com as maiores taxas de homicídio no mundo. No total, o Brasil aparece com 16 cidades na lista, sendo que a capital goiana fica na 10ª colocação entre os estados da federação.

Kelly afirma não acreditar na ação de um assassino em série na capital e crê que o debate em torno desses crimes deve ser ampliado para questão da violência na capital como um todo. “Se há um desviado, um louco, ele não é responsável por toda a sensação de insegurança, por todos os latrocínios, furtos”, opina.

Violência contra a mulher
O evento também relembrou a Lei Maria da Penha, que completa oito anos nesta quinta-feira. Durante a manifestação, o grupo cobrou a prestação de contas dos repasses do Governo Federal destinados à aplicação em políticas públicas para as mulheres em Goiás.

“As mulheres estão procurando mais a Justiça, as delegacias, porém, no estado de Goiás a rede de atendimento e as Delegacias de Atendimento à Mulher não estão humanizadas, não estão tratando as mulheres como deveriam ser tratadas e não estão cumprindo as leis efetivamente”, afirma Kelly.

Homicídios
Uma força-tarefa da Polícia Civil investiga 18 crimes ocorridos neste ano em Goiânia. Entre eles estão as mortes de 15 mulheres, a de um homem e duas tentativas de homicídios de vítimas do sexo feminino.

Participam do grupo de investigação 16 delegados, sendo nove da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), três que atuam em outras delegacias e mais três do interior do estado. Além deles, 30 agentes e dez escrivães também integram o grupo.

O primeiro crime aconteceu em 18 de janeiro deste ano, quando uma adolescente de 14 anos foi morta a tiros no Setor Lorena Park, na capital. Testemunhas informaram à Polícia Civil que homens em uma motocicleta roubaram o celular da vítima, atiraram contra a jovem e fugiram em seguida. No dia seguinte outra jovem de 23 anos foi morta de maneira semelhante ao sair para comprar pão no Setor Jardim América.

Segundo informações da Polícia Civil, os crimes tiveram dinâmica semelhante. Porém, de acordo com o delegado titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), Murilo Polatti, as investigações apontam que as motocicletas usadas são de marcas e cilindradas diferentes, além das descrições físicas dos suspeitos não serem as mesmas.

O delegado explica que algumas das investigações indicam crimes passionais e outras apontam envolvimento das vítimas com consumo e tráfico de drogas. Entretanto, ele não dá detalhes para não comprometer os inquéritos.

Serial killer
Desde maio, quando surgiu a possibilidade de que exista um “serial killer” na capital, a Polícia Civil tratava o caso como um boato. No último domingo, a corporação voltou a afirmar que não crê na possibilidade de que um assassino em série esteja agindo em Goiânia, mas revelou, pela primeira vez, que não descarta a hipótese.

A última vítima foi a estudante Ana Lídia Gomes, de 14 anos, morta no sábado (2) em um ponto de ônibus por um motociclista. O assassinato da menor aumentou a desconfiança em relação a um assassino em série devido às semelhanças dos crimes.

A família dela acredita que todos os crimes estejam interligados. “Não é coincidência. Até quando vão falar que não é [um assassino em série]?”, questionou a avó.

Após a morte de Ana Lídia, diversas pessoas passaram a comentar sobre o assunto nas redes sociais e a pedir que as autoridades se mobilizem. Em diversos perfis, internautas colocaram fotos com símbolos e frases de luto, cobrando respostas nos casos ainda em aberto e também maior segurança na capital.

Gravação
A suspeita de que um assassino em série estaria agindo em Goiânia surgiu no fim do mês de maio, após uma mensagem de voz ser compartilhada pelo aplicativo de celular WhatsApp. Nela, uma pessoa não identificada diz que um homem já havia matado 12 mulheres na capital. No entanto, na época, a polícia tratou o caso como boato.

A mensagem informa que o “serial killer tem uma motocicleta preta e um capacete preto” e que age, principalmente, nos setores Jardim América, Sudoeste e Nova Suíça. Além do áudio, também é compartilhado o retrato falado do suposto assassino. A imagem realmente foi elaborada pela DIH e retrata o suspeito de executar a assessora parlamentar Ana Maria Victor Duarte, de 26 anos, na porta de uma lanchonete do Setor Bela Vista, no dia 14 de março.

Posteriormente, uma montagem do retrato falado com a foto de um jovem foi compartilhada nas redes sociais, informando que se tratava do autor dos crimes. Quem aparece na imagem é o consultor de vendas Rafael Siqueira Aleixo, de 27 anos, que não tem relação com os casos.

O jovem afirmou que teve que mudar sua rotina e a aparência por causa da comparação. Com medo de ser morto por justiceiros, ele procurou a Polícia Civil para denunciar a divulgação da mensagem que utiliza sua foto como sendo a do criminoso. “Não é brincadeira ser acusado de algo tão sério, nunca fiz mal a ninguém. Minha família e meus amigos estão muito preocupados. Tenho medo de morrer”, relatou o jovem em entrevista ao G1, em junho.

Acesse no site de origem: Grupo faz manifestação contra assassinatos de mulheres em Goiânia (G1, 07/08/2014)

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