(El País, 19/08/2014) Michelle Obama foi das primeiras. A primeira-dama dos Estados Unidos postou em 7 de maio uma foto em seu perfil do Twitter, seguido por mais de 5,4 milhões de usuários. Na fotografia ela segura um cartaz com a mensagem: #BringBackOurGirls. Para os não iniciados: o sinal da cerquilha é o complemento indispensável na rede social para marcar um hashtag, uma tendência. O texto significa: “Tragam nossas meninas de volta”. A mensagem era dirigida ao Boko Haram, um grupo radical islâmico que atua há pelo menos cinco anos e já faz quatro meses que mantém sequestradas 200 meninas.
Líderes políticos de todo o mundo se uniram à causa. O primeiro-ministro britânico, David Cameron; a secretária-geral do Partido Popular, María Dolores de Cospedal; a jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai… E também os atores Antonio Banderas, Salma Hayek, deputados mexicanos e colombianos, e até Sylvester Stallone. Uma petição nessa linha recolheu mais de um milhão de assinaturas e #BringBackOurGirls foi replicado quase 1,5 milhão de vezes.
Mas os avanços para o resgate das garotas foram mínimos, e o Boko Haram, que na língua hausa significa “a educação ocidental é pecaminosa”, continuou operando, sem hashtag que detenha seu avanço. Em 10 de agosto sequestraram outras 50 pessoas e o grupo terrorista instaurou no norte da Nigéria um regime “quase medieval”, segundo a BBC e a Reuters. O assunto perdeu força nas redes. A pergunta fica no ar: o que faz com que uma campanha social nas redes realmente mantenha o impulso?
“#BringBackOurGirls se perdeu no mar do conteúdo viral que inunda as redes sociais. Existe uma empatia, mas o que mais podem fazer? Muitos analistas opinam que as redes sociais nos transformaram em cidadãos mais conscientes. Eu não concordo de modo algum. Elas nos tornaram mais conscientes por alguns segundos, mas se não vemos uma mudança na trama em pouco tempo, a atenção do público se desvia, com rapidez, para outra parte”, diz a psicóloga especializada em temas sociais Ramani Durvasula.
Outro motivo está relacionado com a “facilidade” das redes sociais para o compromisso, afirma o professor e consultor em redes sociais William Jackson. “Qualquer um pode postar suas opiniões no Facebook ou Twitter, mas isso não significa que ao fazer isso esteja se envolvendo na política da questão concreta.”
E como ir mais além da superfície? A professora Monique Anair, da |Universidade de Santa (Estado do Novo México), tem uma teoria. “As redes sociais podem ser muito eficazes para chamar a atenção para uma questão. Mas para sustentar a atenção na questão é importante conseguir que a audiência se identifique com quem está sendo afetado. E essa é uma responsabilidade dos meios de comunicação tradicionais.” O jornalismo, em outras palavras. “As redes sociais vão rápido, a oportunidade de enredar uma audiência maior é muito grande, mas a de manter os teus eleitores, muito limitada.”
A professora Helen Benedict, da Universidade Columbia, especialista em questões ligadas ao impacto da guerra sobre as mulheres, pondera que o mais importante é estabelecer a empatia com uma das pessoas envolvidas. “Se pelo menos conhecêssemos uma dessas meninas, logo em seguida haveria empatia.”
Mas, as redes sociais nos transformaram em insensíveis? Não exatamente. A escritora, ativista e colaboradora do The Huffington PostSoraya Schemaly opina que para muitos a falta de acompanhamento “profundo” dos assuntos é um mecanismo de defesa diante da esmagadora realidade. O famoso retuíte, então, se torna um alívio em meio à avalanche de más notícias às quais um ser humano “conectado” à Internet tem acesso todos os dias.
Jeremy Arnold, consultor em marketing, egresso da Universidade Brock e morador der Alberta, Canadá, retuitou #BringBackOurGirls e faz o seguinte comentário sobre a questão: “Olha, eu amo minha família, eu me importo com a justiça social. Também gosto de ver a NFL, mas isso não quer dizer que eu deixe de me importar com o que se passa na Ucrânia ou em Ruanda. Eu me importo com o meio ambiente. Reciclo. E me importo com meus amigos. Pois então, o que me importa o que aconteceu com essas meninas na Nigéria? Claro que sinto compaixão por elas. Mas considerando a estrutura de nossas vidas e de nossa sociedade, como podemos fazer mais por elas? É uma resposta de sete milhões de vidas.”
Verónica Calderón
Acesse no site de origem: Só 140 caracteres de compromisso (El País, 19/08/2014)