(Blog Sylvia Colombo/Folha de S. Paulo, 02/09/2014) Enquanto no Brasil o debate sobre os direitos da população LGTB e a criminalização da homofobia avançam tão lentamente e viram um evidente incômodo a muitos candidatos, o resto da América Latina avança e dá cada dia mais sinais de que os brasileiros vão ficando com o posto de povo mais conservador do continente quando se trata de reconhecer direitos de minorias e garantir as liberdades individuais.
Na última semana, as ministras colombianas Gina Parody (Educação) e Cecília Álvarez, (Turismo) contaram que são um casal. A notícia causou barulho no país, alegrando a população homossexual e revoltando os conservadores, que alegam ser absurdo uma mulher gay estar à frente da pasta de Educação.
A Argentina foi o primeiro país latino-americano a aprovar o matrimônio gay, o Uruguai também já o aprovou, assim como o aborto. No México, igualmente, ambos são legais.
Já a Colômbia, país muito católico e que vinha avançando lentamente na garantia dos direitos iguais aos homossexuais, nos últimos meses deu sinais de que caminha nessa direção. O casamento entre homossexuais ainda não virou lei, mas é possível casar-se em cartório de acordo com sentença da Corte Constitucional, com os mesmos direitos. Agora, acaba de ser aprovada a adoção por parte de duas pessoas do mesmo sexo, desde que uma seja mãe ou pai biológicos.
A última campanha eleitoral, neste ano, foi marcada pelo renascimento da direita conservadora, que ganhou força com a eleição de Álvaro Uribe como senador e a ascensão de seu candidato, o linha-dura Óscar Ivan Zuluaga, por pouco derrotado no segundo turno. Isso obrigou o atual presidente, Juan Manuel Santos, a posicionar-se de maneira mais progressista, para conquistar as alianças mais à esquerda, que lhe garantiram a vitória.
Lembro-me de ter visto, no último debate antes da votação, o susto, os olhos esbugalhados e as gaguejadas dos candidatos quando tinham de responder sobre direitos de homossexuais, aborto e legalização de drogas. É evidente que o processo ali será lento, afinal o conservadorismo moral está muito enraizado no país. Nessa ocasião, ao lado de candidatos como Zuluaga ou Marta Lucía, que defendiam a “família com pai e mãe” e a imoralidade do aborto, Santos foi o mais claro afirmando que queria ter um país em que os direitos de todos fossem os mesmos.
Depois da revelação das duas ministras, ambas disseram-se surpreendidas pelo fato de a notícia ganhar tamanha proporção. “Por que não se diz o mesmo de homens, que estão na mesma situação, na política, e ninguém fala nada?”, disse Álvarez. E acrescentou que o presidente as havia nomeado já sabendo do laço e nunca se referiu a ele. “Fomos escolhidas por nossas capacidades e talentos, e não nos perguntaram sobre a vida privada. Assim é que tem de ser.”