(Correio Braziliense, 27/09/2014) A luta das mulheres pela inserção no mercado de trabalho resultou na derrubada de muros e na abertura de horizontes. As áreas de engenharia e tecnologia da informação já não são fronteiras intransponíveis, mas, ainda assim, demandam enfrentamento de práticas machistas.
De acordo com pesquisa do projeto EngenhariaData, do Observatório da Inovação da Universidade de São Paulo (USP), o número de mulheres na área de engenharia mais que dobrou entre 2000 e 2012. Passou de 20,2 mil para 46,8 mil profissionais. Mesmo com esse aumento, em relação aos homens, as mulheres seguem como minoria nas profissões que exigem domínio dos números e do raciocínio lógico.
A baixa participação delas no mercado de engenharia não se deve à falta de aptidão para os números ou a dificuldades para atuar na área de gestão. Ela é fruto das barreiras sociais e culturais criadas ao longo de décadas para limitar a atuação feminina nesses e em outros setores da economia. Para romper essa barreira, são necessárias muita coragem e disposição. Combinação de atitudes que encontramos de sobra na trajetória de profissionais como a engenheira de software Priscilla Pimenta, 29 anos.
Priscilla começou a carreira em Belo Horizonte, cidade em que concluiu a graduação em engenharia. Formada, fez vários cursos nas áreas de desenvolvimento de software, banco de dados e infraestrutura de servidores. Deu aulas e participou de diversas comunidades de profissionais que fomentavam o desenvolvimento de software colaborativo e livre.
Em menos de uma década no mercado de trabalho, tornou-se sócia e diretora de tecnologia da informação de uma empresa, aqui em Brasília. Atualmente, lidera uma equipe de 20 pessoas que trabalham direta ou indiretamente com tecnologia. No entanto, a experiência, formação e proatividade não impediram que a mineira passasse por situações de discriminação.
“Já tive que entregar um projeto antes do prazo ou até trabalhar em uma sala isolada para mostrar que era capaz de ocupar o cargo em que estava. Cansei de ir a eventos de TI e ser olhada como um ET, apenas por ser mulher”, conta Priscilla, que já fez parte do grupo LinuxChix, voltado para o apoio à entrada de outras mulheres no mundo de tecnologia da informação e do software livre. “O LinuxChix me ajudou muito, pois vi que não estava sozinha e não deveria achar normal o machismo que estava enfrentando.”
Para as mulheres interessadas em seguir o caminho da tecnologia, a engenheira recomenda persistência, troca de experiência com outras mulheres e a busca contínua por aperfeiçoamento. Não é possível dominar todo o conhecimento disponível sobre a área, mas é preciso manter-se informada. Outra dica é sempre optar por uma atividade que traga realização pessoal: “A meta da nossa empresa é mudar a sociedade e desenvolver o Brasil por meio do empreendedorismo. Considero uma motivação e tanto para levantar todos os dias”.