(Valor Econômico, 13/11/2014) É fato consumado que as mulheres ganham menos que os homens. Mas um novo estudo revela que mesmo quando as mulheres estabelecem seus próprios “empreendimentos sociais” sem fins lucrativos, elas pagam a si mesmas menos do que os colegas homens.
O levantamento, que envolveu 159 empreendedores sociais no Reino Unido, mostrou uma diferença de cerca de 23% de remuneração entre os sexos. É algo similar à diferença global nos ganhos entre os homens e as mulheres. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que para cada 1 libra que os homens ganham, as mulheres ganham 77 centavos.
Os motivos da diferença na remuneração são vários: as mulheres se agrupam em setores em que a remuneração é menor, priorizam a família, não têm confiança elevada e não sabem como negociar salários melhores. Ou sofrem discriminação.
Mas por que isso acontece mesmo quando as próprias mulheres são as pagadoras? O novo estudo, feito por acadêmicos da London Business School, Universidade Aston e Universidade de Antuérpia, reflete constatações anteriores sobre os salários recebidos por fundadores de organizações sem fins lucrativos.
Um relatório do programa “10.000 Small Business” (“10.000 Pequenas Empresas”) do Goldman Sachs, observou que em média as participantes do sexo feminino atribuem a si próprias salários que correspondem a 80% das remunerações dos participantes do sexo masculino.
Saul Estrin, professor de estratégia e empreendedorismo da London Business School e coautor da pesquisa mais recente, constatou que a satisfação com o trabalho dessas mulheres é maior que a dos colegas homens. Isso fornece a primeira evidência de um paradoxo da “empreendedora social satisfeita”. “Elas são mais felizes ocupando essa posição do que os homens, apesar de pagarem a si próprias salários menores.”
Uma grande diferença é que os empreendimentos sociais liderados por elas geram menos receitas que os liderados por eles. Segundo o professor Estrin, isso pode explicar, em parte, os salários menores. “As mulheres estão enfatizando mais o sucesso social do que o comercial.”
Ute Stephan, professora de empreendedorismo da Aston University e coautora do estudo, sugere que as empreendedoras sociais podem estar optando por reinvestir na companhia, em vez de se recompensarem, e a possibilidade de os homens se darem salários maiores por serem os principais mantenedores da família. Mesmo assim, ela diz que as empreendedoras sempre priorizam a autonomia em detrimento dos lucros.
No geral, os homens têm uma probabilidade maior de iniciar um empreendimento social do que as mulheres. A diferença de gênero, porém, não é tão grande quanto nas startups tradicionais, segundo um estudo da “Global Entrepreneurship Monitor” de 2011. As constatações do novo estudo estão em sintonia com Lidia Dumitrascu, uma ex-operadora da City de Londres que hoje oferece consultoria e auxilia outros empreendedores sociais a conseguir financiamentos na União Europeia.
Ela diz que sua motivação para criar seu empreendimento social não foi o sucesso financeiro, mas o desejo de criar uma conexão entre a geração dos que têm mais de 50 anos – que possui capital social e financeiro – com a dos que têm menos de 30 anos. Como parte de um grupo de investidores de Londres, ela diz que há uma tendência entre as mulheres de sugerir salários menores para elas mesmas quando negociam aportes financeiros. “O aspecto social é mais importante.”
Emma Jacobs
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