(Valor Econômico, 25/11/2014) Exigir a presença de mais mulheres em cargos de liderança por meio de cotas é uma necessidade para aumentar a presença de profissionais do sexo feminino no alto escalão – a começar pelo conselho de administração das empresas. O tema foi discutido na abertura do 4º Fórum Mulheres em Destaque que aconteceu hoje, em São Paulo.
No painel sobre o assunto, Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, defendeu a criação de uma lei federal que exija a participação de 20% de mulheres nas cadeiras de conselhos de administração. O grupo Mulheres do Brasil, liderado pela executiva, está desenvolvendo um projeto de lei com esse fim para ser enviado ao governo no ano que vem.
“O verdadeiro papel das cotas é ser um processo transitório para acertar uma desigualdade”, disse. Contar apenas com processos educativos, diz ela, significaria ter que esperar cem anos para alcançar esse número. “Se não tiver cota, nem as filhas de vocês terão esse espaço”, disse para a plateia formada majoritariamente por profissionais mulheres.
“É um tema delicado, mas importante de ser debatido”, disse Luciana Batista, sócia da consultoria Bain & Company. Para ela, a busca não deve ser apenas por um número, mas por impacto na cadeia de produção. Como exemplo, ela cita a Noruega, que em 2003 criou uma lei que institui cota de 40% para mulheres em conselhos de empresas de capital aberto.
Embora tenha caído a diferença salarial dentro dos órgãos e aumentada a oportunidade para mulheres qualificadas no país, ainda não houve impacto considerável no número de CEOs mulheres ou na diferença entre remuneração em outros níveis das corporações. “Com o conselho é mais fácil, mas como se garante que o efeito seja sentido na pirâmide toda?”, questionou. Luciana cita uma terceira via que surge em países como Reino Unido e EUA, onde grupos independentes de empresas definem metas voluntárias para aumentar a presença feminina nos conselhos e alto escalão.
Para Adriana Carvalho, assessora da ONU Mulheres, a adoção de cotas não deve ocorrer isoladamente, mas elas são um primeiro passo importante para alcançar mais igualdade de gênero em outros níveis. “Um dos argumentos usado é que as profissionais mulheres não estão preparadas. Mas eu pergunto, será que todos os homens que estão em conselhos hoje são preparados?”, diz.
Contra essa percepção, Luiza Trajano dá como exemplo a inclusão de pessoas com deficiência (PCDs) em empresas, hoje exigida por lei. “Antes da Lei de Cotas, o Magazine Luiza não olhava para os PCDs. Houve um momento inicial, em que se dizia que eles não estavam preparados, mas então nós resolvemos preparar esses profissionais”, diz.
A advogada Raquel Preto, presidente do escritório Preto Advogados, reforça que o problema não é apenas na esfera privada, mostrando números que reforçam que a participação de mulheres nos poderes judiciário, legislativo e executivo ainda é mínima – no ranking de participação política deste ano da organização mundial União Interparlamentar (IPU), o Brasil ficou na 131ª posição, atrás de países como a Arábia Saudita e o Afeganistão. “O homem está sempre em posição de predominância em todos os ambientes de poder. Enquanto não houver uma ruptura disso, não seremos um país democrático. As cotas não são mundo ideal, mas são a solução possível”, diz.
Letícia Arcoverde
Acesse o PDF: Executivas discutem cotas para mulheres em conselho (Valor Econômico, 25/11/2014)