(O Estado de S. Paulo, 22/03/2015) Um debate que está ganhando corpo no Reino Unido nas últimas semanas é o dos limites mais amplos para um novo modelo de educação sexual. Um projeto de lei apresentado pelo governo inglês propõe que as discussões sobre sexualidade comecem mais cedo, aos 11 anos, e que foquem na questão do consentimento em relações sexuais.
Segundo matéria publicada no site da BBC Brasil, o objetivo por trás dessa nova medida é garantir maior habilidade aos jovens para entender quando estão realmente prontos para fazer sexo com seus parceiros e também perceber quando algum adulto pode estar se movimentando para cometer alguma forma de abuso sexual.
A discussão dá uma ideia das amplas dimensões que um projeto de educação sexual pode ter nas sociedades contemporâneas. Além das tradicionais questões, como mudanças corporais, prevenção da gestação, riscos de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), diversidade sexual, entre outras, o novo projeto mostra que os objetivos podem ir bem mais longe.
Mas nem sempre esse é um processo simples. No Brasil, por exemplo, a maior parte das escolas particulares e da rede de ensino pública não consegue dar conta nem das questões básicas de sexualidade.
Poucos são os programas consistentes e contínuos que conseguem vencer barreiras como a resistência dos pais, a falta de tempo e de capacitação dos professores ou, mesmo, as mudanças de governo.
E os desafios por aqui são grandes. Início precoce da vida sexual, gravidez na adolescência, taxas crescentes de HIV na população mais jovem, baixa adesão ao uso de camisinha e aos métodos anticoncepcionais tradicionais, preconceitos, intolerância e questões de gênero são alguns dos problemas comuns em nosso País.
Pensar em um plano de ação mais amplo, que não contemple apenas as questões clássicas (que enfrentam a resistência, muitas vezes, dos próprios jovens), mas que traga também novos desafios nesse campo pode ser uma estratégia interessante. Incluir nessa discussão temas como o poder de decidir quando se quer mesmo fazer sexo (sem estar cedendo apenas ao desejo do outro) e também identificar eventuais riscos de abuso poderia ser um ganho adicional nessas questões.
Meninos. Outro foco possível de trabalho é usar os próprios garotos como aliados para combater os problemas de imagem corporal das garotas, que, muitas vezes, fazem com que elas enfrentem, desde cedo, transtornos alimentares como anorexia e bulimia, por exemplo.
Uma reportagem publicada no jornal inglês Daily Mail da semana passada mostra que esse é um dos assuntos que deve ser discutido naquele país durante a Conferência Anual dos Diretores. Como as meninas têm hoje uma exigência absurda com seu corpo, seria importante que elas soubessem que, para muitos garotos, as formas mais arredondadas e com um pouco mais de peso e de gordura corporal podem ser atributos desejáveis.
Internet. Ainda no campo do comportamento jovem, outro estudo da semana passada, da Universidade de Penn State, nos Estados Unidos, mostra que os adolescentes agem na internet, como na vida fora dela, de maneira muito mais impulsiva do que os adultos. Eles primeiro atuam para depois se preocupar com as consequências.
Assim, muitas vezes, ao se expor, mostrar mais do que deveriam, ou, encontrar alguém que conheceram pela rede, eles só se dão conta dos impactos depois de ter passado por experiências traumáticas. Discutir essa forma de agir, trabalhar mecanismos de controle dos impulsos e pensar nas dimensões que uma ação na rede social pode ter na vida são outros temas considerados hoje centrais em um novo projeto de educação sexual.
Para terminar, um recado dos pesquisadores: incluir esse tipo de projeto na escola não antecipa o início da vida sexual do jovem. Alguns estudos mostram que essa ação pode até mesmo adiar a primeira experiência. Vamos tentar?
Acesse o PDF: Novas ideias para educação sexual, por Jairo Bouer (O Estado de S. Paulo, 22/03/2015)