(El País, 14/04/2015) Hillary Clinton anunciou que deseja ser a candidata do Partido Democrata nas eleições de 2016. Não é a primeira vez que tenta – já se apresentou nas primárias de 2008 –, nem é a primeira mulher a se candidatar, mas isso não significa que será fácil para ela. Eis alguns dados que ajudam a contextualizar o trabalho que ela tem pela frente.
1. Não é a primeira mulher candidata
Hillary Clinton é, provavelmente, a primeira mulher que tem possibilidades reais de se tornar presidenta dos Estados Unidos, mas, se vencer as primárias, não será a primeira mulher a disputar as eleições. A pioneira foi Victoria Woodhull, do Partido dos Direitos Iguais, em 1872 – ou seja, há 143 anos.
Woodhull foi também a primeira mulher a comandar uma corretora de ações em Wall Street, junto com sua irmã, e uma das primeiras mulheres a criar uma publicação, o Woodhull & Claflin’s Weekly, em 1870. Tinha 33 anos quando foi candidata, e seu companheiro de chapa foi Frederick Douglass, escritor e político abolicionista que teria sido o primeiro vice-presidente negro da história.
2. Mas pode ser a primeira candidata por um dos dois grandes partidos
Depois de Woodhull, 29 mulheres foram candidatas à presidência, incluindo a atriz Roseanne Barr (pelo Partido da Paz e Igualdade), mas até agora nenhum dos dois grandes partidos norte-americanos apresentou uma candidata a presidente. A vice, sim: Geraldine Ferraro (Partido Democrata, 1984) eSarah Palin (Partido Republicano, 2008). Nos dois casos, a chapa foi derrotada: em 1984, Walter Mondale/Geraldine Ferraro perderam para Ronald Reagan/George H. W. Bush; em 2008, John McCain/Sarah Palin foram derrotados pela chapa Barack Obama/Joe Biden.
3. Seguindo os passos de Sirimavo Bandaranaike
Caso vença as primárias e as eleições de novembro de 2016, Clinton estará longe de ser a única chefa de Estado do mundo. Em junho de 2014, havia 22 mulheres presidentas ou primeiras-ministras, sem contar monarcas, como a britânica Elizabeth II. Uma clara minoria, apesar de haver entre elas figuras influentes como a chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel, da Alemanha, as presidentas Dilma Rousseff, Cristina Fernandez de Kirchner (Argentina) e Park Geun-hye (Coreia do Sul) e a primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt, da Dinamarca. Entre 1960 e 2013, 80 mulheres foram eleitas primeiras-ministras ou presidentas, começando por Sirimavo Bandaranaike no Ceilão (atual Sri Lanka).
4. Um exemplo para Lisa Simpson
No cinema e na televisão também houve mais presidentes homens que mulheres. Segundo a Wikipedia, só houve sete presidentas em filmes e dez em séries, contando Mary McDonnell, interpretada por Laura Roslin em Battlestar Galactica e que tecnicamente era presidenta das Doze Colônias. A lista não inclui Lisa Simpson, que também foi presidenta no episódio Bart to the Future.
A própria Clinton já venceu eleições fictícias em L’État de Grace, minissérie francesa de 2006, na qual uma mulher chegava à presidência da França. Nos Estados Unidos, a presidenta era uma Hillary Clinton interpretada por Peggy Frankston.
5. Talvez enfrente outra mulher
Hillary Clinton é a primeira democrata a anunciar sua candidatura à presidência, mas provavelmente haverá outros candidatos. Segundo The New York Times, a única outra mulher entre os possíveis democratas aspirantes, a senadora Elizabeth Warren, já anunciou que não se apresentará.
Se vencer as primárias, Clinton enfrentará o candidato republicano na eleição geral de novembro de 2016. Entre os possíveis postulantes por esse partido há outra mulher, Carly Fiorina, ex-executiva-chefe da Hewlett Packard e candidata derrotada ao Senado pela Califórnia em 2010 (perdeu). Em março, ela disse ao Fox News Sunday que havia 90% de chances de ela lançar sua candidatura.
6. Sempre que ouvir estes clichês, bingo!
O perfil Everyday Sexism propôs um bingo com os clichês machistas que Clinton e seus seguidores precisarão escutar pelo menos até as primárias. Entre as casas do jogo estão: “Qualquer referência a hormônios e armas nucleares”; “pergunta sobre como combinar suas obrigações como presidenta e avó”, “análise do calçado, roupa e penteado”; e o uso de adjetivos como “agressiva” e “histérica”. Grande parte vale também para Fiorina, se ela levar a candidatura adiante. Em especial, “descrever as candidatas como garotas”.
It’s official – Hillary Clinton is running for President: have your #EverydaySexism bingo card at the ready… pic.twitter.com/mg9qLSVaqG
— EverydaySexism (@EverydaySexism) 12 abril 2015
7. 3,3 milhões de seguidores
Hillary Clinton não é muito ativa no Twitter: fez pouco mais de 150 tuítes (até 13 de abril) e só segue nove pessoas, embora tenha mais de 3,3 milhões de seguidores, aos quais se somam outros 600.000 no Facebook. Obviamente, sua candidatura – apesar de previsível – mobilizou o Twitter: só em 12 de abril houve mais de 280.000 postagens mencionando Hillary Clinton. Foi especialmente elogiada a sua biografia nessa rede social, difícil de superar:
Nela, define-se como “esposa, mãe, avó, defensora de mulheres e crianças, primeira-dama, senadora, secretária de Estado, ícone capilar, aficionada do terninho de alfaiataria, candidata à presidência em 2016”. Até o fim de semana passado, no lugar desse último item aparecia a sigla “TBD”, de “to be decided”, ou “a decidir”.
Acesse no site de origem: A luta das mulheres para chegar à presidência dos EUA, em 7 dados (El País, 14/04/2015)