(O Estado de S. Paulo/Folha de S.Paulo) Com a eleição de Dilma Rousseff, a forma correta para descrever seu cargo no feminino divide estudiosos. Embora a discussão ainda esteja quente, o Estadão resolveu optar por “a presidente”, a mesma solução que tem sido adotada por praticamente toda a mídia brasileira.
“Tudo certo, nada resolvido. Essa é a grande conclusão sobre a dúvida que se abateu domingo à noite sobre o País – se ele será governado, a partir de janeiro, por uma presidente ou uma presidenta. Está tudo certo porque as duas formas são gramaticalmente corretas. Mas não está nada resolvido porque os preciosistas continuam perguntando qual das duas convém usar. Não adianta procurar a resposta nos bambambãs do vernáculo. O Aurélio, o Houaiss, o Michaelis e mesmo o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras gastam seu latim com regras, não com conveniências. O mesmo se nota entre gramáticos de renome. Antenor Nascentes, Evanildo Bechara, Celso Cunha e outras sumidades fazem seus comentários mas não chegam a cravar preferência por nenhuma das duas formas”, diz a reportagem.
Em breve levantamento, o jornal constatou que a escritora Nélida Piñon sempre se apresentou como “a primeira presidente da Academia Brasileira de Letras”, assim como Patrícia Amorim se considera presidente do Flamengo e Ellen Gracie foi presidente do STF.
“Os legalistas vão à raíz ae informam que ‘presidente’, como outros termos terminados em ‘nte’, são o que se chama comum de dois (uma palavra única para os dois gêneros, masculino e feminino) e não devem variar. Apenas o artigo define o gênero. O gerente, a gerente. O mesmo para amante, ouvinte, doente, estudante, pedinte, cliente, reclamante etc. Portanto, Dilma Rousseff será ‘a presidente’ do Brasil.”
O gramático Domingos Paschoal Cegalla sustenta que presidenta “é a forma dicionarizada e correta”, enquanto Cândido de Oliveira considera “de bom senso gramatical” que os nomes terminados em “nte” tenham flexão. Um terceiro gramático, Paulo Flávio Ledur, sai pela tangente com elegância e diz que o melhor é saber da própria Dilma o que ela quer.
Em outro artigo, publicado pela Folha, o professor Pasquale Cipro Neto lembra que “em alguns (raros) casos, o uso fixa como alternativas as formas exclusivamente femininas, em que o ‘e’ final dá lugar a um ‘a’. Um desses casos é o de ‘parenta’, forma exclusivamente feminina e não obrigatória (pode-se dizer ‘minha parente’ ou ‘minha parenta’, por exemplo). Outro desses casos é justamente o de ‘presidenta’: pode-se dizer ‘a presidente’ ou ‘a presidenta'”. Na opinião do professor, “Dilma Rousseff tem o direito de escolher. (…) Se ela disser que quer ser chamada de ‘presidenta’, que seja feita a sua vontade -por que não?”
O Estadão, no entanto, diz que “um cordão de feministas e simpatizantes” anda dizendo que “presidenta” ajudaria a valorizar a mulher na sociedade brasileira e unificaria o tratamento no continente, pois a argentina Cristina Kirchner exige que a chamem de presidenta e chegou a devolver documentos que vinham com o cargo no masculino. E os chilenos também adotaram a mesma forma para dirigir-se a Michelle Bachelet.
Acesse na íntegra:
Um ‘café com a presidenta?’ (O Estado de S. Paulo – 03/11/2010)
A presidente, a presidenta, por Pasquale Cipro Neto (Folha de S.Paulo – 04/11/2010)