(Geledés, 17/06/2015) O Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) inaugurou nesta sexta-feira (12) a sala Lélia Gonzalez. O espaço homenageia a socióloga e antropóloga que influenciou o pensamento político contemporâneo brasileiro a partir de seus artigos, ensaios e livros sobre as temáticas racial e de gênero.
A proposta em homenagear Lélia partiu dos alunos do Programa de Iniciação à Docência que terão a partir de agora, o desafio e a missão de produzir pesquisas que sejam base à materiais didáticos e para-didáticos, em consonância com o papel intelectual, político e pedagógico relacionados com as questões etnicorraciais e feministas.
Coordenadora da Licenciatura em Ciências Sociais, a professora Haydée Caruso afirmou que a ideia é articular a proposta do laboratório com outras áreas da Universidade, com os movimentos sociais e com as instituições governamentais que trabalham as duas temáticas. “O nome de Lélia Gonzalez vai nos abrir várias possibilidades de diálogos. Será a ponte sociológica entre o acadêmico e o governo. Levar este nome para a sala de aula como material didático, através da literatura, cinema, antropologia, sociologia é um grande desafio”, afirmou.
Militância-referência – Filha de um ferroviário negro e de uma empregada doméstica indígena, Lélia Gonzalez nasceu em 1935, em Belo Horizonte (MG). Sua obra acadêmica e seu trabalho como militante contribuíram para impulsionar não apenas o debate sobre a problemática racial no Brasil, mas também os seus desdobramentos a partir de, basicamente, dois temas correlatos: a ideologia do branqueamento e seus efeitos e a dupla exposição da mulher negra, discriminada pelo racismo e pelo sexismo.
Membro-fundadora do Movimento Negro Unificado (MNU), principal canal de ressurgimento da luta pela igualdade racial na década de 1970, sua importância para movimento negro brasileiro tem sido comparada à da filósofa norte-americana Ângela Davis.
O doutor em Sociologia, Ivair Augusto dos Santos, recordou que Lélia foi uma das primeiras mulheres a fazer o debate em torno da sexualidade na campanha eleitoral de 1982, quando já eram debatidos temas como homofobia, agregando vários segmentos de mulheres e negros na campanha.
Encontro ancestral – Durante o evento estiveram presentes Marcelo e Melina Marques de Lima, netos da socióloga e antropóloga-política. Em depoimento emocionado, Melina ressaltou a experiência que foi conhecer uma versão de Lélia que estava além do parentesco. “Entrei no projeto de pesquisa histórica e foi incrível o primeiro contato que tive com a Lélia acadêmica. Fiquei abismada e orgulhosíssima do que ela representou e representa no precursionismo com o feminismo negro”, disse.
Comprometida com seu legado, Melina reafirma seu desejo dar continuidade a atuação de Lélia. “Quero seguir com essa luta em respeito a herança que ela deixou para as negras e negros do Brasil. Uma luta contra o racismo velado e o pioneirismo em temas polêmicos como a homofobia e a intolerância religiosa”, enfatizou. Já Marcelo, partilhou lembranças e a importância de conhecer as pessoas que conviveram com sua avó. “Uma outra forma de conhece-la”, completou.
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