(Revista Galileu, 20/07/2015) O código que Margaret Hamilton escreveu pode ter salvado a missão Apollo 11
Neste dia 20 de julho, celebramos os 46 anos do pouso do homem na Lua. Há 46 anos, Neil Armstrong era o primeiro homem a pisar no satélite, seguido por Buzz Aldrin. Mas queremos aproveitar esse dia para celebrar alguém crucial para a missão fora os intrépidos astronautas: a programadora Margaret Hamilton.
Obviamente, a missão Apollo 11 foi uma grande conquista da engenharia – mas ela também foi um feito imenso em termos de software. Os astronautas usaram um computador chamado Apollo Guidance Computer, tanto no módulo de comando quanto no módulo lunar, para navegar e controlar a nave. E, claro, alguém precisou programar isso.
O software foi escrito por uma equipe do MIT, do Laboratório de Instrumentação (atualmente chamado de Laboratório Draper) – e a equipe foi liderada pela programadora Margaret Hamilton. A foto aqui abaixo é de Margaret ao lado do seu pequeno código:
Como você pode imaginar, nos anos 1960, escrever códigos era bastante trabalhoso. O computador usava algo chamado de ‘memória de corda’ – fios eram trançados através de furos em uma placa de metal de uma forma determinada para armazenar códigos binários. Se o fio passava por dentro de um furo, representava um. Se o furo ficava vazio, a representação era zero. Os programas eram basicamente tecidos a mão em fábricas – por isso esse tipo de armazenamento ficou conhecido como ‘LOL memory’ (nesse caso LOL não significava ‘rindo alto’ e sim ‘little old lady’ e sim ‘velhinha’).
Voltando à missão Apollo – o código de Hamilton pode ter salvado toda a expedição. Um dos radares responsáveis por ajudar o módulo lunar a voltar para o módulo de comando e o sistema de guia do próprio módulo usavam fontes de energia incompatíveis. O radar, que não tinha muita utilidade na parte da missão relativa ao pouso, começou a mandar para o computador um monte de dados baseados em sinais elétricos aleatórios. Isso fez com que o computador quase ficasse sobrecarregado, sem capacidade de processar as tarefas necessárias para o pouso. Quase.
Mas Hamilton era poderosíssima. Ela antecipou o problema e fez com que o sistema operacional da Apollo suportasse essa sobrecarga. E, por conta do código, quando o problema começou a acontecer, o computador deixava de realizar tarefas de baixa prioridade para suportar a quantidade de dados do radar. Se esse software não tivesse funcionado, o pouso na Lua não teria acontecido há 46 anos.
Mas não ache que, no tempo da Apollo, as mulheres eram mais respeitadas no campo da tecnologia. Os homens consideravam o software uma parte menos importante da computação do que o hardware – por isso as mulheres acabavam programando. E a luta das moças para entrar nesse campo com mais protagonismo continua.
Hamilton, hoje, é uma velhinha incrível de 78 anos que dirige a companhia que ela mesma fundou em 1986, a Hamilton Technologies. Ela viu a engenharia de software (um termo que ela criou, aliás) se transformar de um trabalho sem muito destaque na computação em uma profissão cheia de prestígio. “Quando eu falava de engenharia de software, o pessoal dava risada, achava divertido. Mas o software eventualmente ganhou respeito”.
Continue sendo maravilhosa, Margaret. Parabéns pelos 46 anos da missão Apollo 11.
Luciana Galastri
Acesse no site de origem: Conheça a programadora que tornou a ida da humanidade à Lua possível (Revista Galileu, 20/07/2015)