(Blog da Deborah Bresser, 21/08/2015) — Mãe, cheguei!
— Ô meu filho, chegou tarde… Deu na TV, o metrô tava lerdo, né?
— Ah, tava delicinha. Quanto mais para nas estações, mais lota, e fica fácil de encoxar as mina. Acredita que hoje cedo tava bolinando uma novinha e ela quis encrencar? Se ferrou, um monte de mano começou a gritar pra eu estuprar ela, que era pra aprender o que é ser encoxada de verdade. Aí veio uma outra metida lá, e tirou a garota do vagão. Mó sacanagem.
— Ela devia estar de calça justa, de saia curta, não tava?
— Nem, mãe, a mina tava de calça jeans e de casaco.
— Ah… mas então ela deve ter te dado bola, olhado pra você, né?
— Não né, mãe, ela tava de costas pra mim!
— Mas você é homem, né, meu filho, homem tem essas necessidades, se encostar muito fica assim mesmo…
— Certeza que a mina tava curtindo, mãe!
— … vem comer, a janta tá na mesa.
Fiquei imaginando como seria o diálogo do cara que estava abusando de uma garota de 16 anos no metrô ao chegar em casa e contar o episódio para sua mãe. Não digo que as mães têm toda culpa, mas há algo de muito errado na criação desses homens que andam circulando pelo mundo. Mulheres machistas e que fazem questão de perpetuar a cultura do estupro são o atalho para o desenvolvimento de seres desprezíveis como esses, que mais parecem filhos de chocadeira.
Será possível que esses homens, que acham NORMAL encoxar e incitar o estupro de alguém em praça pública, têm mãe? Se tiverem, desconfio que sejam essas mulheres que mantêm o discurso de que a culpa da violência sexual é sempre da vítima. Só pode. E se omitem diante das agressões cometidas pelos homens que colocaram no mundo.
E esse grupo de homens que resolveu gritar “estupra, estupra”, em vez de sair em defesa da jovem que estava sendo abusada no metrô? Que espécie de gente estamos criando no mundo? Esses caras não têm mãe, filhas, sobrinhas, enteadas, amigas? Nenhum deles consegue, minimamente, se colocar no lugar de uma garota de 16 anos acuada em um vagão lotado, sendo abusada por um desconhecido?
A garota, bem se vê, faz felizmente parte de uma geração que resolveu não se calar diante do abuso. Ela fez o certo, reclamou com o agressor, mas, em vez de apoio, recebeu mais violência. Como essa menina conseguirá gritar novamente?
E não adianta vir com aquela conversinha de que vagão cheio é assim mesmo, que nem sempre o cara está se esfregando de propósito. Ninguém é trouxa. Tanto homens quanto mulheres sabem muito bem diferenciar um esbarrão de um abuso.
O Metrô de São Paulo, mais uma vez, se cala diante do ocorrido. Os agentes fizeram pouco caso da menina e de sua testemunha, justo agora que há uma nova campanha contra os abusos sendo divulgada. A iniciativa é válida, mas acredito que o problema está lá, no jantar da casa dessas famílias, de onde saem esses monstros molestadores.
Está na omissão das famílias diante dos abusadores que acolhem em casa. Está nos moleques que acham que têm direito de estuprar “para botar as mulheres na linha”, e nas senhoras que seguem dizendo que “mulher tem que se comportar”.
Não gosto e não aprovo o “olho por olho, dente por dente”, mas confesso que diante desses episódios só consigo achar que tarado bom é tarado castrado. Se essa corja não consegue “se segurar”, bora tirar deles qualquer libido. Como diria a Rainha de Copa, cortem-lhes as cabeças… neste caso, aquela que só pensa naquilo.
Um up date necessário: Me perguntaram cadê o pai desses molestadores? Só consigo imaginar que sejam ainda piores do que os filhos. Se dessem o exemplo de respeito às mulheres, certamente seus rebentos não virariam isso.
Acesse no site de origem: Abuso coletivo: mulheres machistas criam molestadores de metrô, por Deborah Bresser (Blog da Deborah Bresser, 21/08/2015)