(GIFE, 07/09/2015) As brasileiras já são a maioria no país: representam mais de 52% da população. Estamos falando de mais de 103 milhões de mulheres no Brasil. No entanto, apesar deste cenário de destaque, será que elas têm consigo vivenciar seus sonhos e conquistar seu espaço? No Dia Internacional de Ação pela Igualdade da Mulher, comemorado em 06 de setembro, o tema fica ainda mais em evidência e traz a tona muitos desafios a serem superados.
Diversas iniciativas no país têm buscado refletir sobre esse assunto e levado a discussão para as escolas, meios de comunicação, comunidades, empresas, entre outros espaços, para ajudar crianças, jovens e adultos a entender as questões que envolvem a busca e a promoção cada vez mais da igualdade entre mulheres e homens.
O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM 2013-2015), inclusive, destaca que a busca pela igualdade e o enfrentamento das desigualdades de gênero faz parte da história social brasileira e que várias ações têm sido realizadas no sentido de promover a igualdade entre mulheres e homens, com respeito às diferentes orientações sexuais, além da igualdade racial e étnica.
Entre as ações a serem desenvolvidas, o PNPM destaca a importância da inserção de temas voltados para a igualdade de gênero e valorização das diversidades nos currículos, materiais didáticos e paradidáticos da educação. Nesse sentido, a ONU Mulheres lançou, no mês de julho, no âmbito da iniciativa O Valente não é Violento, o “Currículo Educativo para o Ensino Médio sobre Gênero, Sexualidades e Prevenção de Violências” e seis planos de aulas complementares, financiado pela União Europeia e revisado pela Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
“A escola pode colaborar com a compreensão do viver junto com outras pessoas, apresentar e refletir sobre visões de mundo mais amplas sobre as relações humanas. Essa é a aposta que a iniciativa ‘O Valente não é Violento’ está fazendo ao ofertar currículos educativos que coloquem em discussão as relações de gênero e novas masculinidades. O propósito é incentivar a desconstrução de comportamentos machistas e gerar mais consciência pública sobre as causas da violência. Isso pode estimular a revisão de elementos centrais nas identidades de gênero de meninas e meninos por meio do respeito à diversidade e enfrentar a violência sexista já percebidas na adolescência, inclusive nos namoros”, ressalta Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil.
Entre os temas abordados nos materiais estão: sexo, gênero e poder; violências e suas interfaces; estereótipos de gênero e esportes; estereótipos de gênero, raça/etnia e mídia; estereótipos de gênero, carreiras e profissões: diferenças e desigualdades e vulnerabilidades e prevenção.
Para a elaboração do currículo, foram pesquisados marcos legais e políticos que apontam para a necessidade da inclusão de discussões acerca desses temas no espaço escolar e experiências de trabalho capitaneadas pelas políticas públicas e por organizações da sociedade civil.
“Entendemos que é preciso incentivar a formação constante de educadoras e educadores por meio de ferramentas pedagógicas que possam facilitar a aprendizagem em sala de aula. Com o currículo e os planos de aula, a ONU Mulheres torna público novos materiais sobre gênero que podem ser aplicados na íntegra ou inspirar novas abordagens educativas em aula. Se esses conteúdos chegarem a estudantes, poderemos ter avanços positivos sobre a vida delas e deles, da comunidade escolar e da cidadania de forma mais ampla”, enfatiza a representante da ONU Mulheres no Brasil.
Na opinião de Nadine, momentos como este – do Dia Internacional de Ação pela Igualdade da Mulher – precisam ter destaque. “É no cotidiano que a igualdade de gênero se afirma, assim como as barreiras se apresentam na relação entre mulheres e homens, meninas e meninos. Por isso, a discussão dessas temáticas deve ser diária para que as mudanças inclusivas necessárias aconteçam. Datas que marcam a luta das mulheres por empoderamento e igualdade têm sido muito importantes para colocar a causa em evidência, sensibilizando mais pessoas e possibilitando a reflexão pública sobre avanços e desafios”.
Informação qualificada
Quando o assunto é igualdade entre homens e mulheres, a temática da violência também entra na pauta da discussão. A discriminação da condição feminina é geradora de desigualdades e serve de base para muitas formas de violência contra as mulheres – física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
Todos os dias um grande número de mulheres são submetidas a alguma forma de violência. No país, segundo dados da Fundação Perseu Abramo, de 2010, uma em cada cinco, considera já ter sofrido alguma vez “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”.
Para ajudar a qualificar o debate e trazer a tona mais conhecimento a respeito, a Agência Patricia Galvão lançou no dia 05 de agosto o Dossiê Violência contra as Mulheres, no qual estão sistematizados dados oficiais, pesquisas de percepção, além de informações relevantes e análises de especialistas sobre a realidade do problema no Brasil nas seguintes frentes: violência doméstica e familiar, violência sexual, feminicídio, violência de gênero na internet, violência contra mulheres lésbicas, bi e trans e violência e racismo.
O dossiê destaca que “estas manifestações extremas de discriminação criam sistemas de desigualdades que se retroalimentam, sobretudo as desigualdades de gênero, raça, orientação sexual e identidade de gênero. Elas intensificam vulnerabilidades e restringem o acesso a direitos, cerceando potenciais de desenvolvimento”.
Mais do que apenas disseminar informações, o dossiê foi elaborado, principalmente, tendo como público-alvo profissionais que atuam nos meios de comunicação visando qualificar a cobertura do tema.
“A partir do monitoramento que fazemos da imprensa de temas relacionados aos direitos das mulheres, principalmente da violência, percebemos que, em grande parte das vezes, as matérias apresentam um viés de cobertura policial, de noticiar um crime como um caso individual, e de forma sensacionalista. Ou seja, a imprensa individualiza, como se fosse algo excepcional, e não como um problema que ocorre de forma muito frequente. Parece, muitas vezes, de que estas situações acontecem apenas em famílias desestruturadas, vulneráveis, com problemas com drogas. Mas, sabemos que é algo que está no cotidiano das mulheres de todas as idades, classes sociais e culturais”, comenta Marisa Sanematsu, diretora de Conteúdo e editora da Agência Patrícia Galvão.
Na avaliação da Agência, é preciso que a imprensa dê espaço também para matérias a respeito de políticas públicas, de quais são os direitos das mulheres e quais são os canais de denúncia para que as vítimas possam sair desta situação de violência e receber um atendimento adequado.
Para isso, além dos materiais, o dossiê disponibiliza o contato de vários especialistas que podem ser fontes das reportagens. As informações são atualizadas constantemente e a proposta é que outras dimensões da violência baseada em desigualdades de gênero sejam incorporadas.
Segundo Marisa, neste um mês de lançamento da plataforma, a receptividade tem sido muito positiva, com os acessos aumentando a cada dia. Além disso, no monitoramento da cobertura da imprensa que a Agência realiza, foi possível perceber, a partir da entrada do dossiê no ar, que várias matérias publicadas trouxeram indicações de informações tiradas da plataforma e as fontes indicadas também têm sido mais procuradas para falar sobre o assunto.
“Para nós estas questões sinalizam que, mesmo com pouco tempo de trabalho, o dossiê está começando a surtir efeito no sentido de contribuir para qualificar as informações divulgadas pelos meios de comunicação”, ressalta a coordenadora.
Empoderamento feminino
“Quando falamos em igualdade de gênero, não estamos dizendo que as mulheres devem ser iguais aos homens, mas sim ter os mesmos direitos, oportunidades e liberdade de escolha”, comenta Lírio Cipriani, diretor executivo do Instituto Avon, que atua nesta causa, tendo como foco principal o enfrentamento da violência contra as mulheres.
“Muitas vezes essa violência permanece devido a uma situação econômica, de dependência em que vive, de falta de opções de ter espaço na sociedade. Por isso, apoiamos 31 diferentes projetos no país pelo Fundo Fale Sem Medo, no qual todos visam contribuir para que essa mulher tenha mais autonomia, desenvolva sua própria atividade e tenha liberdade de desenvolver atividades que queira”, completa Lírio.
Além do apoio a projetos, o Instituto promove ainda fóruns de debate sobre o tema – o próximo será em novembro – assim como investe na elaboração de pesquisas que possam ajudar a sociedade a entender esse fenômeno e suas consequências para a vida das mulheres e de todos ao seu redor.
O último estudo, divulgado no fim de 2014, teve como tema “Violência contra a mulher: o jovem está ligado?” e ouviu 2.046 pessoas, entre 16 e 24 anos, nas cinco regiões do país. Entre os temas que ganharam espaço na pesquisa estavam a cyber agressão e os relacionamentos afetivos em tempos de Facebook e outros canais digitais. O ciúmes em excesso, a submissão e a necessidade de controlar o parceiro, inclusive sobre o que vestir ou postar nas redes sociais, são características recorrentes em relacionamentos entre jovens.
De acordo com a pesquisa, 96% dos entrevistados reconheceram que existe machismo no Brasil. No entanto, 80% delas e deles reprovaram comportamentos liberais de mulheres e meninas.
Neste ano, a organização lançou também a campanha Linha 180 – seu brilho natural de volta, para divulgar a Central de Atendimento à Mulher, criada pela Secretaria de Política para as Mulheres, que atende denúncias de violência contra a mulher e indica serviços de apoio por meio do telefone 180. Com a chamada “A violência não pode ser maquiada”, a campanha envolveu a capacitação de revendedoras autônomas para divulgar o serviço, hotsite e vídeo para as redes sociais.
“A Avon tem mais de 1,5 milhão de revendedoras e utilizamos essa força e logística para levar informações qualificadas para que elas sejam as porta-vozes e possam conversar com suas clientes a respeito do tema. O interessante é que a Secretaria de Políticas para as Mulheres já informou que, depois que começamos a divulgar o Canal 180, aumentou significativamente o número de chamadas, e que estas pessoas disseram que ficaram sabendo por meio de nossos folhetos e/ou revendedoras”, destaca Lírio.
Outra iniciativa que é novidade deste ano é o Portal Central Mulheres, uma plataforma digital que funciona como um acervo de informações estatísticas sobre os principais desafios, conflitos e dilemas da mulher nos dias atuais. A ideia é proporcionar um serviço de utilidade pública à sociedade e motivar a reflexão sobre a necessidade de fortalecimento da mulher e de ações pela igualdade de gênero.
Por fim, Lírio destaca ainda os esforços em apoiar e qualificar a atuação dos operadores do direito do Ministério Público, promotores, juízes, desembargadores, polícia militar, entre outros agentes, que estão diretamente envolvidos no processo de atendimento à vítima e ao enfrentamento à violência contra as mulheres. O Instituto já promoveu um fórum reunindo estes diversos setores e têm apoiado outras iniciativas pelo país com este enfoque.
Acesse no site de origem: Dia Internacional de Ação pela Igualdade da Mulher destaca a importância da inclusão do tema nos diversos âmbitos da sociedade (GIFE, 07/09/2015)