(Época, 19/10/2015) Mulheres que trabalham para agências humanitárias e ONGs enfrentam violência sexual e assédio de seus empregadores diariamente. Os casos, varridos para debaixo do tapete, foram contados em uma reportagem do The Guardian.
Apesar da ausência de estatística exata sobre a escala do assédio sexual no setor, muitos que trabalham para ONGs em todo o mundo contam que a violência cresce e que precisa ser investigada. De acordo com depoimentos de mulheres ao The Guardian, as agências humanitárias têm falhado em proteger suas funcionárias do abuso. Vítimas contam que, muitas vezes, são rotuladas de “encrenqueiras” ao denunciar.
Uma funcionária do Centro Carter, em Atlanta, conta que foi demitida este ano por se recusar a ficar em silêncio após ser estuprada por um colega de uma ONG local, enquanto trabalhava no Sudão do Sul, na África. “Em troca, recebi justiça e nenhum apoio”, disse Pierce. “Continuei a falar sobre o que tinha acontecido e a falha da Organização para atender aos funcionários. Então, fui demitida”, diz.
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O Centro Carter afirma que apoiou a ex-funcionária: “Foi oferecido tratamento médico, apoio e incentivo a procurar aconselhamento”. A agência se recusou a comentar por que seu contrato foi encerrado, citando a necessidade de manter a confidencialidade em tais casos.
Megan Norbert, também em uma ONG no Sudão do Sul, relata que foi drogada e abusada por um funcionário. Ela conta que as pessoas têm medo de denunciar agressões sexuais por medo da falta de apoio das organizações. “O setor humanitário ainda é um mundo muito machista. A maioria dos diretores nacionais ainda são homens. O que precisamos é de um reconhecimento de que existe a violência sexual dentro da comunidade”, diz.
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O Instituto Headington, na Califórnia, que oferece apoio psicológico aos trabalhadores humanitários, começou uma pesquisa para avaliar a escala do problema. Alicia Jones, assistente de direção, diz: “Ninguém tem uma leitura precisa sobre isso no momento. A maioria das agências estão ouvindo sobre os casos internamente, mas as vítimas estão optando por não se apresentar para uma série de razões”. Segundo Alice, “estima-se que 1% ou mais (aproximadamente 5 mil a 10 mil vítimas) passe por isso durante a carreira humanitária”.
O Projeto Internacional dos Direitos das Mulheres, no Canadá, também tenta quantificar a escala de violência sexual e assédio nas agências humanitárias e ONGs. De acordo com a pesquisa, mais de 1.000 pessoas — a maioria mulheres — responderam ao questionário e divulgaram abusos sexuais dentro do setor.
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Uma fonte do Comité Internacional de Resgate em Nova York criticou as políticas inadequadas dentro de sua organização sobre assédio e violência. Para ela, falta segurança para que as vítimas possam se sentir confiantes para denunciar, além de uma formação para os funcionários sobre como lidar com os casos. “Nós precisamos proteger a dignidade da pessoa, escolha e confidencialidade durante todo o processo”, diz.
GV
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