08/12/2010 – Fala de Dilma sobre Irã tem repercussão positiva no país e no exterior

08 de dezembro, 2010

(O Estado de S. Paulo/Folha de S.Paulo/O Globo) A mídia deu grande destaque à repercussão positiva sobre as declarações da presidente eleita, Dilma Rousseff, de que estaria disposta a mudar o padrão de votação do Brasil em resoluções que tratem das violações aos direitos das mulheres no Irã. Governos europeus e ONGs comemoraram, mas pediram que a mudança não se limite a temas relacionados à situação da mulher, mas aos direitos humanos em geral.

Na Comissão Europeia, as declarações de Dilma foram também muito bem recebidas. “O Brasil é uma democracia que tem um papel fundamental hoje nas relações internacionais. Estamos ansiosos para começar a trabalhar com a nova presidente”, afirmou um diplomata, em e-mail enviado ao jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo apurou o Estadão, nos bastidores, diplomatas europeus esperam que a declaração represente o início de uma mudança no posicionamento do Brasil. A expectativa é de que o governo brasileiro use o canal de diálogo que mantém com os iranianos para pressionar Teerã a instroduzir modificações na proteção de direitos humanos no país.

Mina Ahadi, presidente do Comitê Internacional contra Execuções, comemorou a declaração de Dilma Rousseff e afirmou que pretende enviar uma delegação ao Brasil para discutir com a nova presidente a participação brasileira na defesa dos direitos humanos. “Uma mudança no padrão de votação do Brasil é muito importante. Sabemos como o Brasil é importante para o Irã e, portanto, ter o Brasil do nosso lado é fundamental”, afirmou Mina, que atua como uma espécie de líder da campanha de apoio a Sakineh.

Para Lucia Nader, da ONG brasileira Conectas, embora a posição de Dilma seja positiva, é preciso fazer um alerta: “Recebemos com esperança as declarações da presidente eleita, pois se o Brasil quer ocupar papel de destaque no cenário internacional não pode ser ambíguo em relação a princípios e valores”, disse a ativista. “Cabe ressaltar que a Constituição Federal é enfática ao estabelecer que o Brasil deve reger-se em relações internacionais pela prevalência dos direitos humanos”, acrescentou. “É também importante que a política externa seja mais transparente e aberta à participação da sociedade brasileira”, completou Lucia Nader.

Para alguns analistas, um dos motivos para a não manutenção do chanceler Celso Amorim no Ministério das Relações Exteriores seria sua atuação no caso do Irã.

“Ela (Dilma) pelo menos já reconhece um dos grandes erros da diplomacia durante o governo Lula. Essa posição é mais realista”, afirmou o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG).

“Parece que baixou o bom senso. O País estava ficando mal ao não censurar as violações aos direitos humanos”, acrescentou o presidente da comissão da Câmara, Emanuel Fernandes (PSDB-SP).

“Há aí, certamente, um bom resquício feminista da militante de esquerda dos anos 60/70. E também, muito provavelmente, algum esforço para compensar o papelão do recuo, durante a campanha, em relação à descriminalização do aborto.
Salvo engano, o episódio marca a primeira divergência pública de Dilma em relação a Lula. Nada que deva causar maior mal-estar entre eles. Mas Dilma fixou um ponto e já começa a se libertar do seu criador. Sua fala anuncia um governo mais ponderado e, ao mesmo tempo, mais principista que o atual”, escreve o jornalista Fernando de Barros e Silva em sua coluna na Folha de S.Paulo.

“Presidente eleita assume opção clara de esquerda na área de direitos humanos”, escreve a jornalista e também colunista da Folha Eliane Cantanhêde. “Enquanto Lula tenta escapulir de rótulos ideológicos, ela assume claramente uma opção pela esquerda. Essa opção tende a se revelar não na política econômica, mas na área de direitos humanos, por exemplo.”

Deu na coluna Toda Mídia (Folha de S.Paulo – 08/12/2010): “A ‘Foreign Policy’ saudou, em texto de Colum Lynch, correspondente do ‘Washington Post’, que ‘Vem aí a mudança do Brasil sobre direitos humanos’. Referia-se à entrevista dada por Dilma Rousseff ao ‘WP’, criticando a abstenção do Brasil na recente votação da ONU sobre os direitos humanos no Irã.”

Para o professor de relações internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, no entanto, “não dá pra dizer, ainda, que representa uma virada. Ela falou de um episódio particular e o vinculou à questão de gênero”.

Acesse as matérias:
‘Fala da presidente não é, ainda, uma virada’ (O Estado de S. Paulo – 08/12/2010)
Irã evita confronto e tenta atrair Dilma (O Estado de S. Paulo – 08/12/2010)
Dilma com nuances, por Fernando de Barros e Silva (Folha de S. Paulo – 07/12/2010)
Europa e ONGs elogiam posição de Dilma sobre Irã (O Estado de S. Paulo – 07/12/2010)
Bastidores: presidente eleita acha inadmissível silêncio do Brasil (O Estado de S. Paulo – 07/12/2010)
Oposicionistas identificam bom senso nas declarações (O Estado de S. Paulo – 07/12/2010)
Deputados elogiam posição de Dilma sobre Irã (O Globo – 07/12/2010)
Presidente eleita assume opção clara de esquerda na área de direitos humanos, por Eliana Cantanhêde (Folha de S.Paulo – 06/12/2010)
Apoio a Irã na ONU foi erro, diz Dilma (O Estado de S. Paulo – 06/12/2010)
Dilma diz ser contra posição do Brasil em relação ao Irã (Folha de S.Paulo – 06/12/2010)

 

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