(Folha de S. Paulo, 04/12/2015) No intervalo de um ano, 1,4 milhão de mulheres passaram a exercer a função de chefe de suas famílias no país.
Domicílios que possuíam, no ano passado, uma mulher como pessoa de referência representavam 39,8% do total, alta de um ponto percentual em relação ao verificado em 2013. Em 2014, 27,7 milhões de lares eram chefiados por mulheres.
As informações constam da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada nesta sexta-feira (4) pelo IBGE. Ainda que tenha havido avanço, a proporção de lares chefiados por homens permanece maior: 60,1% em 2014. O ano passado encerrou com 42,2 milhões de lares com homens como a pessoa de referência.
O movimento do ano passado confirma a tendência da última década, com elas ganhando espaço à medida que eles reduzem a sua importância.
De 2004 a 2014, a quantidade de lares chefiados por mulheres aumentou 67% —11,4 milhões de mulheres passaram a essa condição no período. A estatística de homens cresceu apenas 6% no período, com a entrada de 2,4 milhões de pessoas nessa situação.
“O aumento das mulheres enquanto pessoa de referência nos domicílios está relacionada ao maior acesso delas ao mercado de trabalho”, disse a técnica Cíntia Simões, pesquisadora do IBGE.
A população feminina ocupada cresceu 21,9% na última década e atingiu 42,4 milhões em 2014 —homens empregados eram 55,7 milhões.
Houve também ganhos de formalização, com a entrada de nove milhões de mulheres em postos com carteira assinada entre 2004 e 2014.
O ano passado encerrou com 24 milhões de mulheres em empregos formais, alta de 60% em relação ao verificado dez anos antes, quando o volume era de 15 milhões.
RENDIMENTO
A despeito do avanço no mercado, a diferença de rendimentos entre os sexos persiste. O rendimento médio das mulheres em postos formais foi de R$ 1.763 em 2014, valor R$ 530 menor que o dos homens.
Além de ganhos inferiores, elas ainda têm uma posição mais frágil no mercado. As mulheres são o segundo grupo populacional com maior taxa de desocupação, de 8,7%, ficando atrás somente dos jovens (16,6%).
METODOLOGIA
O levantamento, feito com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), faz uma interpretação subjetiva do termo “pessoa de referência” no lar.
Durante as entrevistas com a população, os técnicos do instituto não deixam explícito se determinado “chefe de família” é necessariamente quem assume a maior parte dos gastos do lar.
O indicador, portanto, mostra apenas que as mulheres são cada vez mais vistas como a pessoa mais importante de seus lares.
AFAZERES DOMÉSTICOS
Outro indicador que apresenta distância entre os sexos e que dá uma medida da importância da mulher no lar é o que mede a quantidade de pessoas que mesmo ocupadas realizam afazeres domésticos, como cozinhar, limpar a casa e lavar roupa.
Mulheres empregadas fazem mais tarefas domésticas do que homens, no que ficou apelidado de “dupla jornada feminina”. O contingente de brasileiras neste grupo é 9,9 milhões maior do que o de brasileiros. Em 2014, havia 38,5 milhões de mulheres nesta condição, enquanto os homens eram 28,6 milhões.
Ainda que eles tenham aumentado sua participação nas tarefas de casa —o contingente cresceu 29,4% em uma década— elas ainda gastavam muito mais horas semanais nesses afazeres: 21 horas delas contra 10 horas deles.
Lucas Vettorazzo e Bruno Villas Bôas
Acesse o PDF: Cresce número de mulheres chefes de família no Brasil (Folha de S. Paulo, 04/12/2015)