(EBC, 09/12/2015) Mais do que ambiente para a busca de informações e de comunicação, a internet se estabeleceu como espaço estratégico para a defesa dos direitos da mulher. Em 2015, a grande rede foi massivamente ocupada por diferentes campanhas que denunciaram assédios, atos de machismo e buscaram ampliar o espaço da mulher em diferentes lugares.
“A rua e a rede são igualmente espaços a serem conquistados. A cada ciclo disso [de novas hashtags], espero que a gente dê mais um passo em que a desigualdade não seja natural. Da mesma forma em que há marcha nas ruas, talvez exista uma marcha de hashtags na internet”, defendeu a criadora da campanha #AgoraÉQueSãoElas, Manô Miklos, durante a roda de conversa Hashtag Feminismo, na terça-feira (8), durante o Emergências 2015. Segundo ela, a escolha pelo meio por onde se manifestar depende do perfil e da realidade de cada mulher: “O que fica é a complementaridade; tem lugar para todas as ações. Talvez algumas de nós tenha mais escolhas sobre estratégias de luta, e outras que têm que lutar para estar viva”, explica.
A militante nas redes sociais pelo feminismo negro Stephanie Ribeiro considera que as hashtags popularizam o que antes estava restrito às pessoas na academia: “vai criando um discurso tão grande que hoje há crianças querendo discutir o feminismo na escola”, afirma.
Atuante no coletivo feminista Think Olga, que criou os movimentos #PrimeiroAssédio e #ChegadeFiuFiu, Luise Bello afirma que depois de viralizadas, as hashtags passam a não ter dono. “A #PrimeiroAssédio é de todo mundo que compartilhou. Com quatro dias, já havia oito mil mensagens no Twitter. A hashtag não foi do Think Olga, foi das mulheres que tinham guardado aquilo pela vida inteira”, defende.
“A gente faz tudo pela internet, por que não vai lutar pelos nossos direitos também? Essa onda eu vejo como uma retomada da voz das mulheres. Não há limite entre online e offline. As campanhas começam na internet, mas a gente vai sendo chamada para falar sobre isso na vida real. Essas hashtags trazem grandes transformações nas vidas das mulheres e isso não tem preço” – Luise Bello, ativista do Think Olga
As ações na web em outros países da América do Sul foram lembradas pela ativista e criadora #NiUnaMenos, Marta Dilon. A campanha na Argentina saiu no ambiente da web e foi para as ruas em junho deste ano, em uma grande marcha contra a violência de gênero. “Nós não queremos clemência, nem piedade […] não queremos nem uma a menos. Queremos ser respeitadas como pessoas, como seres autônomos. Por isso, seguimos reclamando nossos direitos, como o do aborto, porque temos soberania sobre nossos corpos. Os assuntos extrapolam as hashtags e a internet, e isso é uma potência também”, acredita.
Marília Arrigoni; Edição: Ana Elisa Santana
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