Coerência e persistência para seguir no rumo do que o Brasil precisa
“O fato de a presidente (a) Dilma Rousseff ter praticamente repetido na posse as mesmas linhas daquele discurso que fez quando foi eleita em outubro, muito mais do que significar falta de imaginação política, demonstra, sobretudo, coerência e persistência, virtudes mais importantes para uma tentativa de prospecção do que poderá vir a ser o seu governo, marcado pela continuidade, mas também pela necessidade de mudar rumos e conceitos sob a sombra de um Lula que se recusa a sair de cena.
A visão dela de como governar, as primeiras decisões tomadas, de privatizar os aeroportos, de conter gastos, vão no caminho do que o Brasil precisa.”
Sinais de vida, por Merval Pereira (O Globo – 04/01/2011)
A condição de mulher e de geração meia-oito como moldura
Fernando de Barros e Silva, colunista da Folha de S. Paulo, em seu texto “Mulher meia-oito” comenta as referências à condição de mulher e da geração 68 no discurso de posse de Dilma Rousseff. Para o jornalista, essa evocação não distancia a presidenta de seu eixo programático.
“Entre uma ponta e outra, o recheio do discurso passou em revista a pauta já conhecida do ‘melhorismo’ (o que já fizemos e o que ainda falta fazer), tudo com bom senso e equilíbrio, sem rancores nem radicalismos.
A ênfase, como deveria ser, ficou reservada ao combate à miséria: ‘A luta mais obstinada do meu governo será pela erradicação da pobreza extrema’. Trata-se, afinal, de um governo ‘de esquerda’, apesar do consenso, formado desde FHC, de que ‘governar é um processo’.
Mulher meia-oito, por Fernando de Barros e Silva (Folha de S.Paulo – 03/01/2011)
Fernando Rodrigues, colunista da Folha de S. Paulo, em seu texto “Gravitas” comenta a abordagem menos emocional no discurso de posse de Dilma Rousseff.
“Desde a sua eleição e até a posse, no sábado, Dilma seguiu de forma estrita o ritual traçado. Não produziu ações fora do estabelecido pela liturgia do cargo. Parece pretender conferir à função mais ‘gravitas’, no sentido latim do termo -mais dignidade, serenidade e nobreza.
É positiva essa mudança de paradigma. A função de presidente da República requer do seu ocupante não só a capacidade de se comunicar com as massas como se o Planalto fosse um programa de auditório eterno. Um pouco de temperança fará bem ao país e à política.”
“Gravitas”, por Fernando Rodrigues (Folha de S.Paulo – 03/01/2011) A questão de gênero em alta em Brasília
Renata Lo Prete, editora do Painel da Folha de S. Paulo, comenta:
“Alto lá! Súbito, a questão de gênero se tornou hipersensível em Brasília. Ontem, na posse de José Eduardo Cardozo (Justiça), um grupo de mulheres petistas ameaçou iniciar um motim porque só havia homens na mesa das autoridades.
Alegando outro compromisso, Paulo Bernardo (Comunicações) cedeu lugar a Maria do Rosário (Direitos Humanos).”
Sobre o discurso de Dilma Rousseff : “Transpareceu franqueza e vontade genuína de, sem dizer, acertar onde Lula mais errou. Que assim seja. A propósito. Melhor frase de Dilma no discurso do Parlatório: ‘Respeitarei a crítica, pois é o embate civilizado que move as democracias.’ (…) A presidente teve também outros dois bons momentos: no início, quando falou da ‘falsa leveza da seda verde e amarela’ da faixa presidencial, e ao final quando, emocionada, prometeu ser rígida contra transgressões, assegurou não ter ‘compromisso com o malfeito’, declarou-se desprovida de rancor e ressentimentos e, convidando a oposição ao diálogo, curvou-se à evidência de que é presidente de todos os brasileiros. E chorou.”
Amplo, geral e restrito, Dora Kramer, jornalista e colunista (O Estado de S. Paulo – 02/01/2011)
Mulheres querem poder e igualdade
“Naquele distante 1888, foi a última vez que uma mulher governou o Brasil, até o dia de ontem, quando Dilma Rousseff assumiu a presidência. O que isso significa? Se nada significasse já seria o fim de um monopólio. Mas as batedoras mulheres, o aumento da presença feminina no Ministério são pequenos sinais de que os próximos quatro anos poderão mostrar novos avanços. Já se pode dizer que não serão suficientes porque o Brasil está muito atrasado. Num ranking feito pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves com outros pesquisadores, o Brasil está em 110º lugar em presença de mulher no Parlamento com magérrimos 8,8% de parlamentares mulheres. Isso, 77 anos depois de ter tomado posse a primeira deputada federal brasileira, Carlota Pereira Queiroz. Bertha Lutz, grande líder sufragista não se elegeu, ficou como suplente e nunca assumiu, porque depois veio o Estado Novo, no qual ninguém votava, nem era votado, seja homem ou mulher. Avanços há, basta olhar em volta. Mas os atrasos a serem vencidos também são visíveis. O que as mulheres querem é só a igualdade.”
Mulher no poder, por Míriam Leitão e Valeria Maniero (O Globo – 02/01/2011)
Muito mais que uma mera declaração
“O governo da presidente Dilma Rousseff será bem mais que uma continuação dos oito anos de seu antecessor, se ela cumprir as promessas mais audaciosas de seu discurso de posse. Ela prometeu retomar a pauta de reformas, abandonada quase inteiramente durante os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se houver empenho nessa missão, o Brasil poderá nos próximos quatro anos não só avançar algumas posições entre as grandes economias. Poderá também acumular os benefícios combinados da modernização produtiva e da consolidação democrática e estará, portanto, muito mais qualificado para integrar o Primeiro Mundo. (…) seu discurso teve também o indisfarçável tom de uma nova Carta ao Povo Brasileiro, destinada a afastar inquietações e a afirmar a identidade de um novo governo. Ao qualificar como ‘inegociável’ seu compromisso com as liberdades individuais e, de modo especial, com a liberdade de imprensa e de opinião, a nova presidente parece ter feito muito mais que uma rotineira declaração de princípios.”
As promessas de Dilma, editorial (O Estado de S. Paulo – 02/01/2011)
Sai a emoção, entra a razão pura
“Sob a retórica da continuidade, mas avanços, o discurso de posse de Dilma Rousseff trouxe a primeira novidade, embora esperada: sai a emoção pura, o intuitivo Luiz Inácio Lula da Silva, entra a razão pura. (…) Surpreende, em todo o caso, que Dilma volte a um tema caro a Lula, o da miséria e o da comida à mesa dos brasileiros. (…) Ao estabelecer como meta a erradicação da miséria absoluta, ao mesmo tempo em que crava como ‘valor absoluto’ a estabilidade econômica, Dilma cria para si um baita desafio, nunca antes resolvido no mundo todo.”
Entre a razão e o imenso desafio, por Clóvis Rossi (Folha de S.Paulo – 02/01/2011)
Uma presidente que pode ir além
“As condições são francamente favoráveis, e suas características femininas e de militante ajudam. Lula não é de esquerda nem de direita, Dilma tem ideologia. Será capaz de queimar pontos de popularidade se a circunstância exigir. Tem rumo, direção, metas, compromisso. (…) O Brasil elegeu Dilma e lhe dá não apenas um voto de confiança, mas também o estímulo, a torcida e a esperança. O sucesso dela será o sucesso de todos e do futuro. Itamar, Fernando Henrique e Lula garantiram um círculo virtuoso, e Dilma deve ser uma presidente honesta, sensata, coerente, com grandeza e princípios, para ir além.”
Voto de confiança, por Eliane Cantanhêde (Folha de S.Paulo – 02/01/2011)
Inaugurando a era da racionalidade
“Não é preciso ser profeta para anunciar que a primeira mulher a comandar o País abrirá a era da racionalidade. Basta examinar sua trajetória na coordenação do Ministério Lula. Trata-se de pessoa afeita a planejamento, gerenciamento, controles e cobrança. Isso, por si só, é merecedor de aplausos, eis que passamos – e perdemos – um bocado de tempo interpretando a expressão do presidente que saiu ou ensaiando versões sobre o que disse ou tentou dizer. A substituição do verbo pela ação constitui um avanço. (…) As expectativas em torno do desempenho da presidente levam ainda em conta a questão do gênero. Há muita curiosidade para saber se uma mulher terá melhor desempenho que um homem no comando da Nação. Especula-se que suas dificuldades serão menores nos espaços do obreirismo e nas áreas sociais (programas assistenciais) e mais complexas nas frentes econômica e política.”
O advento da era da razão, por Gaudêncio Torquato, jornalista (O Estado de São Paulo – 02/01/2011)
Leia também: 69,2% dos brasileiros têm expectativa positiva para governo Dilma, diz CNT/Sensus (Portal G1 – 29/12/2010)