(Folha de S. Paulo, 02/02/2016) Você tem filha, neta, sobrinha, independentemente da idade, caro leitor? Imagine que ela, crescida, jovem ou adulta, sofra assédio sexual, violência do namorado, marido, ou até mesmo de garotos que ela recusa nas baladas, ou que seja estuprada por conhecidos da escola, do trabalho ou do bairro. Terrível, não é?
Imagine também, por mais que isso doa, que ela tenha passado no vestibular e que agora, época de trotes, seja humilhada por colegas veteranos pelo simples fato de ser mulher, principalmente se ela escolheu algum curso que ainda seja considerado reduto masculino.
E que, durante a faculdade, sofra assédio, violência sexual, e até abuso e estupro, e que fique sem apoio e defesa por parte da instituição que frequenta, mesmo fazendo
denúncias do que passou.
No Brasil, a cada 11 minutos uma pessoa é vítima de estupro, a maioria mulheres, segundo dados coletados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública relativos a 2014. Ainda assim, parece que esses dados são subestimados, já que não é toda vítima que faz a denúncia formal do que sofreu.
Já tivemos notícias de abusos contra mulheres ocorridos em universidades, inclusive nas mais reconhecidas, mas não de programas universitários que contemplem essa questão de modo educativo e formativo com o alunado jovem.
Você tem filho, sobrinho, neto, caro leitor? Imagine que ele possa praticar qualquer um desses crimes acima citados contra mulheres.
Terrível, não é? A maioria dos meninos logo aprende que deve ser valente, mas temos confundido valente com violento ao criá-los.
Por esses motivos, e para tornar a sociedade mais acolhedora e amigável para todos, precisamos encarar a educação praticada com meninos e meninas, desde o início da vida deles, tanto em família quanto na escola. Sim: meninas e meninos são diferentes e, por isso, precisamos educá-los de modos diferentes. Entretanto, temos cometido muitos equívocos nesse sentido.
Primeiro passo: reconhecer que vivemos, em pleno século 21, numa sociedade tremendamente machista. Isso significa uma superioridade do homem sobre a mulher. Mulheres recebem salários menores do que homens pelo mesmo trabalho, poucas alcançam cargos de destaque nas empresas, e não por falta de competência e compromisso. Mulheres e homens são diferentes, mas devem ter direitos iguais, não é? Chamamos isso de equidade.
Reconhecida a realidade, precisamos de estratégias para mudar essa situação, e é bem mais fácil e sensato começar isso com as novas gerações, mudando conceitos e preconceitos para educá-los melhor.
A escola é cheia de ensinamentos machistas, sabia? Não é segredo, por exemplo, que muitas delas consideram os meninos mais aptos para o aprendizado de matemática do que as meninas. Se hoje, de um modo geral, as meninas apresentam um resultado inferior ao dos meninos nessa disciplina, a raiz é a pouca confiança que elas aprendem a ter ao estudar a matemática.
Ao mesmo tempo, as escolas não têm programas de educação que ensinem aos mais novos que diferença não é superioridade ou inferioridade em relação a meninas e meninos, e outras questões semelhantes.
Para proteger as gerações mais novas de sofrer ou cometer abusos, precisamos mudar a maneira de educá-los.
Acesse o PDF: Mudar para proteger, por Rosely Sayão (Folha de S. Paulo, 02/02/2016)