(Agência Patrícia Galvão, 12/02/2016) As autoras Schuma Schumaher e Antonia Ceva lançam na próxima terça-feira (16), às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, o livro Mulheres no Poder: trajetórias na política a partir da luta das sufragistas do Brasil. Resultado de uma pesquisa iniciada em 2010, a obra resgata a luta das sufragistas pela conquista do direito a voto no século 19, acompanhando este percurso até as eleições de 2010.
Entre as 200 biografias presentes no livro estão as de Bertha Lutz, Natércia da Silveira, Almerinda Gama, Alzira Soriano e Carmem Portinho, ao lado de outros nomes de sufragistas e feministas brasileiras que fizeram história rompendo barreiras de gênero e étnico-raciais bem delimitadas na sociedade da época.
Ao longo dos capítulos as autoras dialogam com a pauta política do movimento de mulheres, trazendo momentos e conquistas marcantes dentro do Congresso Nacional, como a aprovação da Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006).
De acordo com as autoras, o objetivo do trabalho é promover uma mudança de mentalidade arraigada na sociedade e na cultura brasileiras e valorizar e estimular uma maior representatividade das mulheres nos espaços de poder, superando preconceitos e atitudes discriminatórias. O livro é fruto de uma parceria entre a Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano), Fundação Banco do Brasil e Edições de Janeiro.
Em entrevista à Agência Patrícia Galvão, as autoras falam sobre os desafios existentes para que as mulheres tenham acesso aos cargos decisórios nas diferentes instâncias de poder. Confira:
Falem um pouco sobre o processo de pesquisa e produção do livro. Qual é o principal objetivo da obra? Como tem sido a recepção do estudo nos Estados onde já foi lançado e qual a expectativa para o lançamento em São Paulo?
A pesquisa teve início no ano de 2010 com um levantamento de dados e imagens, uma revisão da literatura sobre o tema e visitas às casas legislativas, arquivos e bibliotecas, de diversos Estados, para compilar materiais sobre as parlamentares. O objetivo é visibilizar a participação das mulheres no âmbito da política, um espaço historicamente ocupado por homens, e promover uma mudança de mentalidade na nossa sociedade com o intuito de ampliar a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão. O livro recupera episódios inéditos da conquista do voto feminino no Brasil, histórias e biografias que não são contadas nas escolas e nos materiais didáticos. Por isso, a receptividade tem sido muito positiva, uma vez que a conquista do voto feminino no Brasil faz parte da nossa História e precisamos conhecê-la a fundo. No senso comum, as pessoas desconhecem quem foi Leolinda Daltro, Bertha Lutz e muitas outras sufragistas que romperam barreiras e abriram espaços para as gerações futuras.
A expectativa é muito grande, uma vez que o Estado de São Paulo possui personalidades da política, conhecidas nacionalmente, como Luiza Erundina, Eva Blay, Marta Suplicy e muitas outras. O livro é uma homenagem a essas mulheres que romperam, e continuam a romper, inúmeras barreiras em um espaço de poder.
A partir dos diversos perfis levantados pela pesquisa, quais são os desafios recorrentes no acesso das mulheres aos cargos de poder no Brasil e quais avanços podem ser mencionados?
As campanhas eleitorais são muito caras e são os partidos políticos que indicam seus/suas candidatos/as, não havendo uma equidade de gênero no uso dos recursos partidários e espaço na propaganda eleitoral. Apesar da Lei nº 9504, de 1997 – que estabelece a reserva de vagas para mulheres nas listas de candidaturas em eleições proporcionais, prevendo que cada partido apresente um mínimo de 30% de candidatas para os cargos eletivos –, o resultado não foi o almejado. No entanto o aumento no número de candidaturas de mulheres fortaleceu o debate sobre a paridade de gênero no âmbito da política e o movimento feminista tem uma importância crucial neste processo. Mas precisamos avançar na reforma política, que defende listas alternadas por sexo, raça e orientação sexual.
Quais são as mudanças necessárias para que haja aumento da participação das mulheres nas instâncias de poder e decisão?
A mudança começa nas instituições de ensino, sobretudo na educação básica. Só a educação de gênero, ou melhor, a reeducação de gênero, que vai promover uma mudança de mentalidade na nossa sociedade. Recentemente, a SECAD/MEC se pronunciou sobre a importância de se trabalhar com as questões de gênero no âmbito escolar, para romper com o sexismo que é reproduzido cotidianamente nas relações humanas. Também é crucial uma reforma no sistema político brasileiro para garantir a participação democrática e igualitária de brasileiros e brasileiras.
De que modo o machismo e o racismo marcam a trajetória das mulheres na política, no Judiciário e em outras instâncias?
O machismo e o racismo são estruturas que subalternizam mulheres, sobretudo mulheres negras e indígenas. São poucas as mulheres ocupando postos de poder no nosso país, se compararmos ao número de homens. No Judiciário, embora a presença feminina tenha aumentado na última década, até hoje nenhuma mulher negra foi nomeada ao cargo de ministra.
É preciso romper com estas estruturas e com os inúmeros estereótipos que tentam inferiorizar e criar barreiras de acesso às mulheres, especialmente negras e indígenas.
O que o feminismo precisa fazer para contribuir com o aumento da representatividade política das mulheres negras e o enfrentamento ao racismo?
Defender a agenda das mulheres negras, engrossar a luta de enfrentamento ao racismo e ampliar as redes na luta por maior participação política das mulheres, em todas as esferas de poder, que promovam uma maior equidade de gênero e étnico-racial.
Sobre as autoras
Schuma Schumaher é pedagoga, ativista feminista, escritora e atualmente coordenadora executiva da organização não-governamental feminista Redeh – Rede de Desenvolvimento Humano. É co-autora do Dicionário Mulheres do Brasil, Abrealas, Um Rio de Mulheres, Gogó de Emas e do Mulheres Negras do Brasil – este último recebeu o Prêmio Jabuti (2008). Em 2007, recebeu o prêmio de Mulher do Ano (Diploma Bertha Lutz) concedido pelo Senado Federal. Em 2005 foi uma das 52 brasileiras indicadas ao Prêmio Nobel da Paz.
Antonia Ceva é pedagoga, mestre em Educação Brasileira (2006) pela PUC-Rio e doutora em Serviço Social pela mesma instituição (2013). Coordenadora de pesquisa da Redeh desde 2009, entre outros trabalhos atuou no projeto Herdeiras das Sufragistas, que resultou na co-autoria do Mulheres no Poder. Também é co-autora do livro Outras Mulheres: mulheres negras brasileiras ao final da primeira década do século XXI, publicado em 2012, pela Editora PUC-Rio.