(G1, 14/02/2016) Ministra Nilma Lino disse que discussão deve levar à superação do racismo. Pais fantasiaram filho de dois anos de macaco Abu e foto causou polêmica.
Para a ministra das mulheres, da igualdade racial e dos direitos humanos, Nilma Lino Gomes, a repercussão causada pela foto de uma família com fantasias de Alladin (pai), o macaco Abu (filho) e a princesa Jasmine (mãe) é uma oportunidade para reflexão e reeducação. O caso foi tachado como racismo porque a criança negra, de dois anos, estava vestida de macaco.
“O processo de igualdade racial, as questões de discriminação no Brasil são processos reeducativos. Então nós também podemos reeducar a sociedade brasileira no tratamento com as diferenças porque muitas vezes eu posso achar que aquilo é algo natural, que não tem nada a ver, mas simbolicamente eu posso estar sim ofendendo um grupo étnico, uma raça”, disse a ministra durante visita ao Piauí nesse sábado (14) para a mobilização nacional do ‘Zika Zero’.
No dia 7 de fevereiro, o produtor de teatro Fernando Bustamante e sua mulher Cíntia saíram fantasiados com o filho de dois anos vestido do macaquinho amigo de Alladin. A associação da imagem da criança negra, que foi postada no Facebook, com o macaco foi alvo de muitas críticas e apontada como “racismo” por alguns internautas.
Perguntada pelo G1 se o caso, uma criança negra estar fantasiada de macaco, pode ser considerado racismo, a ministra Nilma evitou dar uma resposta direta.
“O preconceito no Brasil tem uma dimensão muito forte, principalmente simbólica, e está no nosso imaginário. Muitas vezes eu acho que é uma simples brincadeira e não estou com essa intenção de ofender ninguém, mas, sabendo que nós temos um imaginário racial e práticas racistas, eu diria que nós precisamos tomar cuidado com a diferença, tomar cuidado com o outro, tomar cuidado com qual mensagem nós queremos passar. Acho que essa situação é um momento de nós avançarmos na superação do racismo no Brasil”, disse.
Fernando Bustamante conversou com o G1 sobre o episódio, e disse que “jamais, em hipótese nenhuma, foi racismo. É surreal pensarem que foi intencional ou que foi nossa vontade expor o Mateus desta maneira”. O produtor de teatro disse que a escolha das personagens teve como motivo mostrar uma grande família.
“Ele [Alladin] não tem filho, tem um melhor amigo. Está sempre com ele, ajuda a conquistar o que quer. E a figura do filho está representado no amor, que é um macaco. Partiu do principio de representar uma família”, disse.
Questionada se o racismo está na atitude do casal ou no público que achou isso um ato preconceituoso, a ministra Nilma mais uma vez evitou ser direta e preferiu indicar que o momento deve ser usado para discussão sobre como acabar com as práticas discriminatórias.
“A sociedade brasileira foi colonizada com uma ênfase muito grande na colonização do outro, do diferente, das diferenças. O que eu quero dizer é que não só nas nossas práticas, mas no nosso imaginário, na nossa cultura, o racismo está presente. Muitas vezes ele está de forma inconsciente. Às vezes, um fenômeno ou outro é um bom momento para refletir sobre a questão do racismo no Brasil e como ele pode estar naturalizado na nossa cabeça”, finalizou.
Fernando Brito e Pedro Santiago
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