(HuffPost Brasil, 23/02/2016) Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), em média, 211 milhões de mulheres ficam grávidas todos os anos, sendo que 87 milhões delas não tiveram qualquer intenção de ter um filho (pelo menos não naquele momento).
Dentre elas, 46 milhões preferiram terminar suas gestações indesejadas. Deste número, cerca de 22 milhões infelizmente optam (por falta de opções seguras) por um método inseguro, levando 47,000 mulheres a óbito anualmente. Certamente não é esse o fim que queremos para nossas mulheres.
Aborto não é uma questão de opinião. A legalização do aborto não é uma questão de crenças, tabus ou religião, que sequer deveriam ser envolvidos nessa questão. É uma questão de saúde pública e deve ser tratada desta forma.
Não gosta da ideia do aborto? Não faça um.
A sua opinião não vai mudar o fato de que mulheres que não querem ter filhos abortam diariamente. Mulheres religiosas, mães de família, adolescentes, mulheres pobres, mulheres ricas, mulheres casadas, mulheres solteiras, mulheres empregadas, desempregadas abortam todos os dias. Mulheres de todos tipos abortam e a opinião de ninguém vai mudar isso.
A única diferença é se elas vão ter direito a um aborto seguro ou não. E é isso o que mais interessa, pois todos os anos cerca de 47,000 mulheres morrem e 8 milhões sofrem traumas físicos e mentais irreversíveis devido a abortos inseguros.
Uma das instituições que aborda sobre este direito de escolha é a, How to use the Abortion Pill (como usar a pílula do aborto, traduzido do inglês), que oferece informação confiável sobre como utilizar as pílulas e encaminha interessadas a instituições como a safe2choose.
Países que legalizaram o procedimento já comemoram a data com baixas taxas de mortalidade e leis próprias que regem essa condição no país. O Uruguai, por exemplo, comemorou o índice de zero mortes pelo procedimento depois que o aborto foi legalizado em finais de 2012. Em muitos destes países o aborto legal e seguro não é mais uma questão em debate. Respeita-se o direito à escolha e preservam-se os direitos reprodutivos de cada um.
Os europeus estão bem mais avançados neste assunto. Em questão de leis, a Itália, por exemplo, admite o procedimento dentro das 24 semanas de gestação. Já a Suécia permite o aborto até às 18 semanas e Portugal até às 10 semanas. Nestes países, aborta-se todos os dias – de forma segura – também.
O continente Africano ainda tem muito que avançar, contudo algumas nações africanas já estão a fazer a diferença. Na África do Sul, o aborto é legalizado desde 1996. O procedimento é gratuito para as gestantes que não têm condições de pagá-lo. A Constituição sul-africana reconhece o direito de decisão quanto à reprodução e segurança, além do controle do corpo. Por isso, desde que o país começou o processo de democratização, em 1994, o aborto passou a ser permitido até à 20ª semana de gestação em centros especializados ligados ao Departamento de Saúde e em hospitais particulares credenciados. Moçambique recentemente descriminalizou o aborto, juntando-se a um grupo seleto de países (Cabo Verde, África do Sul, Tunísia, Zambia) que reconhecem e respeitam os direitos reprodutivos da mulher.
Ao contrário da África, a América Latina é palco de algumas das mais rígidas legislações sobre o aborto no mundo. Uruguaios e mexicanos são hoje os pioneiros na região promovendo um debate saudável , como o que vem acontecendo agora no Chile. No México, o aborto é uma questão bem resolvida na capital, Cidade do México, disponível a pedido de qualquer mulher com gestação de até doze semanas. Porém, o aborto ainda é proibido em 18 das 31 constituições estaduais do país. Com certeza não é a situação ideal, mas nem se compara a países como El Salvador, Guatemala, Nicarágua e Honduras, onde o aborto não é permitido nem mesmo para salvar a vida da mulher.
A discussão é e deve ser a preservação da saúde e vida das mulheres.
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