(O Globo, 09/03/2016) Após três dias de reuniões com pesquisadores e laboratórios de todo o mundo em Genebra, na Suíça, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira que a elaboração de uma vacina contra o vírus zika é prioridade para evitar epidemias no futuro, sendo a vacinação de mulheres grávidas e em idade fértil o maior objetivo a ser alcançado. A diretora da OMS Marie-Paule Kieny afirmou, no entanto, que quando o produto tiver pronto, pode ser tarde demais para conter uma epidemia. Um documento com o perfil da vacina a ser desenvolvido deve ser divulgado pela organização nas próximas semanas.
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— Será preciso provavelmente um ano até a realização dos primeiros testes clínicos. Depois, veremos. Por tanto, é possível que vicinas cheguem tarde demais para frear a epidemia atual na américa latina — disse a diretora.
Para Marie-Paule Kieny, é urgente o desenvolvimento de diagnósticos e métodos preventivos para proteger as gestantes.
— O vírus zika causa infecção branda e sem riscos para a maioria das pessoas. Por isso, medicamentos para tratá-lo parecem menos importantes neste momento. A prioridade é o desenvolvimento de diagnósticos e vacinas para acabar com a lacuna em pesquisa e proteger as mulheres grávidas e seus bebês — disse ela.
O lançamento de uma vacina, no entanto, não deve ocorrer num prazo mínimo de três anos. Esta é a expectativa do diretor do Instituto Butantan, professor Jorge Kalil, após participar dos encontros na OMS. Segundo Kalil, foi possível perceber pela troca de experiências entre pesquisadores que o desenvolvimento do produto ainda está na fase de descobrimento, como ele chamou.
— Sendo otimista, diria que podemos entrar na fase de testes clínicos com vacinas dentro de um ano. Se se tudo der muito certo, em ao menos três anos ela esteja disponível. Isso se todas as agências reguladores aprovarem e todo o procedimento correr bem — afirma Kalil.
De acordo com o professor, há a possibilidade de se desenvolver em menos tempo uma espécie de soro que poderia ser aplicado em gestantes.
— O que pode ser mais rápido do que a vacina é o desenvolvimento de um soro em cavalos para o vírus zika. A gente aplicaria o vírus no animal para que ele desenvolvesse os anticorpos. Depois, isolaríamos os anticorpos e faríamos um produto que seria esse soro de cavalo contra zika. É como fazemos com a raiva. Acredito que em uma ano e meio isso estaria no mercado, mas a previsão é muito difícil.
Segundo a OMS 67 empresas e institutos de pesquisa estão trabalhando em produtos contra a zika, sendo 31 para diagnóstico, 18 em vacinas, oito em terapêuticos e 10 em meios de controle do mosquito Aedes aegypti. A organização ressaltou que nenhuma vacina ou terapeutico foi testado em humanos até o momento.
A instituição divulgou ontem, após as reuniões, uma lista de três prioridades estabelecidas: desenvolver testes sorológicos para identificação de dengue, chicungunha e zika, desenvolver vacinas baseadas em vírus mortos para mulheres em idade fértil; e elaborar meios inovadores de combate ao Aedes aegypti.
Segundo a OMS, o controle tradicional do mosquito com o uso de inseticidas em spray claramente não vem tendo impacto significativo para reduzir os casos de dengue e o mesmo deve acontecer com o vírus zika. Especialistas em controle do vetor também alertaram que é preciso extremo rigor nas pesquisas para uso da bactéria Wolbachia, capaz de bloquear a transmissão do vírus da dengue no Aedes aegypti.
Acesse no site de origem: Para OMS, desenvolvimento de vacina contra zika é prioridade (O Globo, 09/03/2016)