(Folha de S.Paulo, 08/04/2016) “Quase entrei em depressão de tanto imaginar coisa ruim.” É assim que a dona de casa Maria Helena Souza, 35, descreve seu estado de espírito desde que começou a apresentar sintomas de infecção pelo vírus da zika no início de fevereiro.
Com 38 semanas de gravidez, está prestes a dar à luz seu oitavo filho, a primeira menina, mas até hoje não sabe com certeza se foi ou não infectada pelo vírus.
Assim como Maria Helena, milhares de grávidas no Estado do Rio aguardam resultado de exame de zika, causado pelo mosquito Aedes aegypti. Ao todos, amostras de sangue e urina de 9.000 grávidas aguardam por teste nos laboratórios, que estão sobrecarregados.
O medo de Maria Helena é que sua filha tenha microcefalia, má-formação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada.
A relação causal entre zika na gravidez e microcefalia ainda não foi totalmente esclarecida, mas a OMS (Organização Mundial da Saúde) já considera que há um consenso científico forte de que o vírus pode causar a doença.
Ela diz que se acalmou um pouco quando viu num ultrassom que o perímetro da cabeça de sua filha está normal. “Mesmo assim, só vou ficar tranquila quando vir o rostinho dela. É uma agonia essa espera.”
O Rio tem dois laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde para realizar os testes, o Lacen (Laboratório Central) e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Como instituição de referência, a Fiocruz não tem, a princípio, a atribuição de realizar exames de rotina –foi convocada para dar apoio ao Lacen.
TEMPO LIMITE
Com amostras de 2.000 grávidas esperando por análise, o Lacen ultrapassa o tempo limite de 30 dias que havia determinado para a entrega dos exames. Atualmente, essas mulheres esperam, em média, 60 dias para saber se foram infectadas pelo vírus. Algumas, até mais do que isso.
O laboratório diz que tem operado com sua capacidade máxima, 160 testes por dia. Para se ter uma ideia da demanda, a Secretaria de Saúde pretende aumentar a capacidade do Estado para 500 testes a partir desta semana, quando passarão a contar com a ajuda de outros seis laboratórios públicos de quatro instituições do Estado: UniRio, UFRJ, Hospital dos Servidores do Estado e Hospital Pedro Ernesto.
A demanda por exames no Fiocruz foi tamanha que a fundação suspendeu, na semana passada, o recebimento de amostras. “Tivemos que fazer isso para dar conta das 7.000 amostras estocadas no nosso laboratório”, diz Rodrigo Stabeli, vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz. São de grávidas do Rio, Espírito Santo e Minas Gerais.
A fundação alocou verba extra e mão de obra para a força tarefa. Stabeli diz que isso tem impacto negativo sobre a pesquisa em outras áreas. “O laboratório está totalmente voltado para a zika. Pesquisadores abandonaram suas rotinas de pesquisa em outras áreas para fazer apenas isso”, diz Stabile.
Segundo a Secretaria de Saúde, os laboratórios de apoio devem começar a atuar nesta semana. Para que eles comecem a trabalhar, aguardam o repasse de kits para diagnóstico do Ministério da Saúde.
“Com esse apoio, nossa expectativa é triplicar a capacidade de análise, passar a realizar 500 exames por dia e reduzir o tempo de espera por resultado para 15 dias”, diz o subsecretário de vigilância em saúde, Alexandre Chieppe.
Luiza Franco
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