(Agência Patrícia Galvão) Não são as mulheres que estão despreparadas para a política; é a política que está despreparada para a sociedade
Entrevista com Renato Janine Ribeiro
“A política hoje é ‘masculina’, ou seja, o ambiente político é egoísta e impositivo. Resumindo grosseiramente, o homem seria mais agressivo e a mulher, mais receptiva, negociadora e acolhedora. Se este argumento for verdadeiro, denuncia um problema da nossa política: não são as mulheres que estão despreparadas para a política; é a política que está despreparada para a sociedade. Neste caso, uma participação mais feminina na política mudaria a natureza dela.
Não é esse o caso de Dilma Rousseff. Ela não faz política diferente de como um homem faria. Ela escolheu para sua equipe pessoas que governam com dureza. Não sei se é possível fazer diferente, mas também não acredito que haverá mudanças de fato na maneira de governar somente porque se substituiu um homem por uma mulher, sem que isso represente uma mudança efetiva da postura da mulher na sociedade.
Podemos, então, pensar que se faz necessário uma reforma política mais radical do que apenas constitucional. Mas esse assunto é complexo, pois há um grande risco de esse tipo de discussão acabar criando o mito do feminino e de que a presidenta Dilma não é feminina. Quem seria feminina? Mulheres mais passivas e subservientes? Seria um mito dizer que a mulher é mais acolhedora, negociadora? Há, realmente, diferença entre homens e mulheres?
No meu ponto de vista, se há ingresso de um ator novo na política e na sociedade, ou ocorrem mudanças ou esse fato não é importante. Vale para mulheres, negros, para sociedades nas quais há várias etnias em conflito. A inclusão ocorre para modificar o que existe ou corre-se o risco da inclusão fazer apenas uma cooptação, ou seja, não mudar a natureza das coisas. Tivemos, sem dúvida, um avanço com a eleição de uma mulher para presidente, como a redução de preconceito, mas não podemos dizer que isso já representa um salto na nossa sociedade.”
Para contato com o entrevistado:
Renato Janine Ribeiro – professor titular de Ética e Filosofia Política na USP
São Paulo/SP
Tel. (11) 3031-2431 – [email protected]