Silvia Camurça

28 de fevereiro, 2011

(Agência Patrícia Galvão) Governos dos Estados começam a se sentir constrangidos e passam a aumentar o número de mulheres em suas equipes

silviaEntrevista com
Silvia Camurça, socióloga e integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras 

A presença de uma mulher na Presidência da República tem efeito cascata. Muitos governos dos Estados começam a se sentir constrangidos e passam a aumentar o número de mulheres em suas equipes, mesmo que de maneira tímida e insuficiente. No governo de Pernambuco, por exemplo, havia apenas uma secretária e, este ano, são quatro. Ainda é pouco, mas já é um sinal de mudança. Um outro exemplo é a nomeação da delegada Martha Mesquita Rocha para a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que passa a ser a primeira mulher a comandar cerca de 12 mil policiais.

Ficou muito evidente o esforço de Dilma Rousseff para tentar colocar 30% de mulheres à frente dos ministérios. Esta proposta foi inviabilizada pelos partidos. Esse ambiente cria uma tensão política, ou seja, os governantes dos Estados vão pensar duas vezes antes de não nomear nenhuma mulher ou apenas uma.

Com a eleição da primeira mulher presidenta, a classe política se vê confrontada com essa nova realidade, da mesma maneira como quando um presidente da classe operária foi eleito. Ou, o primeiro negro eleito, o presidente Obama, nos Estados Unidos. São rupturas da lógica tradicional do poder que renovam, arejam e provocam mudanças principalmente nos setores mais sensíveis e abertos. Os conservadores, provavelmente, vão trabalhar contra e, inclusive, levantar dúvidas pelo fato de Dilma Rousseff ser mulher.

Apesar de termos mais mulheres no Executivo, só teremos mais mulheres no Legislativo se houver mudança no sistema político, que hoje funciona de forma excludente e tende a reeleger sempre os mesmos parlamentares. A legislação atual facilita certo tipo de cidadão chegar ao poder: homem, proprietário, branco e pertencente à elite econômica.

E uma reforma política favorável às mulheres só será possível se houver muita mobilização popular, porque há grande resistência das lideranças políticas. No governo Lula, houve duas tentativas, mas não foram adiante. Ambas previam a adoção da lista de alternância de sexo que, em vários países do mundo, inclusive da América Latina, se comprovou eficaz. Se conseguíssemos mudar a legislação brasileira, o efeito seria imediato, nas eleições seguintes teríamos muito mais mulheres, o dobro ou triplo do que há hoje.

No México e na Argentina, se um partido não cumpre o mínimo de cotas para candidaturas de cada sexo não pode inscrever nenhum candidato. No Brasil, não acontece nada. Somente o Congresso pode punir os partidos que não cumprem cotas e os congressistas se recusam a criar qualquer mecanismo de punição.

É fundamental também uma mudança da condição de vida das mulheres, pois a dupla jornada dificulta a carreira política. É exigido da mulher muito mais esforço e sacrifício do que dos homens, para os quais o espaço político já é dado como possibilidade. As mulheres, em geral, não contam com o apoio nem das próprias famílias.

Não acredito que as mulheres tenham, naturalmente, mais sensibilidade para governar. Porém, as mulheres nomeadas pela presidenta Dilma têm um grande compromisso com as políticas sociais. São todas mulheres com grande bagagem de acompanhamento das questões sociais no Brasil.

Nas duas áreas – social e econômica – há mulheres e homens com compreensão social, portanto, acredito que este será um governo com mais visão de desenvolvimento e equilíbrio entre as tensões econômicas e de política social. Em governos passados, houve equipes econômicas com uma visão muito economicista. Talvez haja um equilíbrio melhor, mas não será fácil, pois há outras formas de pressão fora do governo: como o empresariado e os meios de comunicação.”

Para contato com a entrevistada:
Silvia Camurça
socióloga e integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras
Recife/PE
Tel.: (81) 3087-2086 – 9937-8635 –
[email protected] / [email protected]

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