(Época, 18/05/2016) Relatório inédito da ONU Mulheres revela que, no Brasil, elas respondem por apenas 9% dos cargos legislativos ou executivos
Há dois dias da votação do Impeachment pelo Senado, numa terça outonal de céu azul sem nuvens, a brasileira Luiza Carvalho, recém- chegada à Brasília, esperava para mostrar os resultados de um relatório mundial inédito. Desde outubro de 2014, Luisa está à frente do diretório regional da ONU Mulheres para a América Latina e Caribe. Um dos capítulos do relatório não poderia ser mais atual e pertinente, a paridade democrática na América Latina – ou a participação de mulheres na política. “Nenhum país fez o que devia pela mulher. A desigualdade não foi eliminada nem superada”, ela diz. E Luiza nem sabia o que estava por vir.
ÉPOCA – Qual a situação do Brasil no ranking?
Luiza Carvalho – O Brasil está no pior lugar do ranking de mulheres na política, ao lado de Belize e Haiti, com vexatórios 9% de mulheres em cargos legislativos ou executivos. Apesar dos países ratificarem normas garantindo 30% dos cargos para mulheres, a máquina política interrompe a ascensão feminina. O Brasil adotou as cotas, mas os partidos nunca tiveram determinação para adotá-las. No Brasil, como em outros países, existe uma resistência à presença da mulher na política, com base em achismos que não fazem sentido.
ÉPOCA – O que impede a mulher de crescer dentro dos partidos?
Luiza Carvalho – Já ouvimos que a maternidade atrapalha, que mulher não traz voto nem dinheiro ao partido. Mas mulher não faz filho sozinha. Sobre os votos, basta olharmos para outros casos no mundo,como o Canadá (o primeiro ministro canadense Justin Trudeau escolheu, igualmente, o número de homens e de mulheres ministros).
ÉPOCA – Uma das ambições descritas no relatório é a paridade democrática, ou seja, o mesmo número de respresentantes mulheres e homens. Por que o equilíbrio é importante? É uma missão possível em países em desenvolvimento?
Luiza Carvalho – As pessoas precisam estar representadas no governo. Para tanto, as mulheres têm que estar lá. Se é possível? É sim, e não apenas de nações desenvolvidas, como já falei. Na Bolívia essa é uma realidade. No México e na Nicaragua, a participação feminina está aumentando. O Brasil é um sinalizador para a América Latina.
Thais Lazzeri
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