(Sala de TV, 21/06/2016) Nenhuma mulher está blindada contra a violência sexual. Se antes imaginava-se que as vítimas eram somente pobres e anônimas, agora sabemos que os agressores não respeitam classe social tampouco a notoriedade de quem atacam. Os predadores estão em todos os níveis da sociedade.
O caso de estupro coletivo contra uma adolescente carioca suscitou uma onda de depoimentos corajosos de atrizes, apresentadoras, jornalistas, cantoras e modelos que sofreram algum tipo de assédio ou até estupro. Antes disso, poucas famosas tinham revelado suas experiências traumáticas.
Ana Maria Braga quebrou o braço ao fugir de um agressor. Xuxa sofreu abuso sexual de um conhecido da família. Marina Ruy Barbosa foi alvo de um homem que filmou por baixo de sua saia e divulgou as imagens na internet. Sandra Annenberg revelou ter sido assediada e discriminada como mulher.
A lista inclui ainda Letícia Sabatella, Zezé Motta, Mônica Martelli, Luana Piovani, Rachel Ripani, entre tantas outras.
Algumas foram assediadas no ambiente profissional, outras durante atividades de lazer, houve quem teve o namorado como algoz e aconteceu até ameaça de agressão sexual feita por supostos fãs. Histórias diferentes unidas pelos mesmos sentimentos: medo, humilhação, revolta, dor.
O telejornalismo tem feito sua parte ao exibir matérias e debates sobre o tema. Mas a teledramaturgia não tem conseguido efeitos importantes ao lançar a questão aos seus milhões de telespectadores.
Quando pensamos em conteúdo relevante de ficção em defesa da mulher, a referência mais forte a surgir na memória ainda é Malu Mulher, de 1979.
Protagonizado por Regina Duarte, o seriado levou ao horário nobre da Globo a denúncia da violência doméstica, do machismo e do sexismo, além de incentivar o empoderamento feminino quando esta expressão sequer existia.
“Os homens falavam que eu era subversiva. Muitos diziam não permitir que sua família assistisse ao seriado”, contou a atriz em recente participação no TV Mulher, no Canal Viva.
Assim como as novelas lançam modismos e gírias, poderiam impulsionar o início de transformações sociais. Tornou-se inaceitável que as emissoras se furtem a esse papel. Mas é preciso que o público faça sua parte, também.
Nas últimas décadas, alguns autores criaram tramas com violência contra a mulher, sem conseguir uma mobilização social proporcional ao poder catalisador da TV.
O drama de personagens femininas agredidas, ainda que pintado com tintas fortes, não provocou a indignação e a discussão necessárias. Será que faltou aprofundamento do tema ou houve indiferença do telespectador?
É estranho perceber que, para a maioria dos que consomem teledramaturgia, os crimes contra a mulher são interpretados tão somente como parte daquele entretenimento.
Talvez seja utopia esperar reação relevante de quem se coloca diante da TV justamente para esquecer as próprias mazelas do cotidiano.
Boa parte dos noveleiros busca na televisão uma fuga, e não um espelho dos horrores vividos ou testemunhados na vida real.
Como quebrar essa letargia, ou omissão? Ainda não há resposta. Mas toda iniciativa é válida. Ao se expor para jogar luz sobre o assunto, as mulheres famosas dão enorme contribuição à causa.
Elas sofreram – e muito.
Oito casos de violência contra a mulher na teledramaturgia:
Em A Regra do Jogo (2015), Domingas (Maeve Jinking) sofria agressões emocionais e físicas do marido que a explorava financeiramente, Juca (Osvaldo Mil).
Laura (Nathália Dill), de Alto Astral (2014), era vítima de tortura psicológica e chantagem por parte de Marcos (Thiago Lacerda), com quem se casou sob ameaça.
Envergonhada e com medo, Neidinha (Jéssica Barbosa) passou anos sofrendo calada, sem denunciar os três homens que a estupraram dentro de uma van, na novela Em Família (2014).
A reprimida Sinhazinha (Maitê Proença), de Gabriela (2012), era obrigada a fazer sexo sempre que o marido desejava. O bruto Coronel Justino (José Wilker) matou a esposa ao descobrir que ela tinha um caso amoroso.
A mesma trama mostrou o drama de Lindinalva (Giovanna Lancellotti), estuprada pelo noivo, Berto (Rodrigo Andrade). Após a ‘desonra’, ela se tornou prostituta de cabaré.
Na novela A Favorita (2008), Catarina (Lilia Cabral) constantemente levava surras do marido, Leo (Jackson Antunes).
Em O Profeta (2006), Sônia (Paolla Oliveira) era alvo de insultos e tapas desferidos por Clovis (Dalton Vigh), que a mantida em cárcere privado.
Raquel (Helena Ranaldi) era espancada com uma raquete de tênis por seu marido, Marcos (Dan Stulbach), em Mulheres Apaixonadas (2003).
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