(Folha de S.Paulo, 18/07/2016) Para o dia 4 de agosto, a rede americana NBC, que comprou os direitos de transmissão, programou um especial sobre os Jogos do Rio. Vai abordar os problemas todos, zika, criminalidade, atrasos nos espaços e na mobilidade, as crises econômica e política.
A partir do dia seguinte, com a cerimônia de abertura, as câmeras se voltam para os atletas. “Nós vamos cobrir essas questões de saída”, afirmou à Folha Jim Bell, o produtor executivo da NBC Olympics. “Mas, uma vez que comecem os Jogos, só [vamos cobrir] se afetarem os atletas ou as competições”.
Com previsão de enviar 4.000 profissionais ao Rio, a rede afirma que não terá problemas para noticiar o que aparecer de diferente.
“Os Jogos Olímpicos acontecem num mundo imperfeito, mas eles representam esperança e união, coisas de que o mundo precisa exatamente agora”, defendeu Bell. “É compreensível que a imprensa vá focar os enredos negativos, mas vamos pensar também nos maravilhosos cariocas, que vêm trabalhando tanto, por anos.”
Questionado se a NBC teme um fiasco, reagiu: “A nossa expectativa é de que a Olimpíada no Rio será espetacular, a beleza natural e a paixão do Rio vão brilhar apesar dos desafios.”
A rede americana é a principal parceira do Comitê Olímpico Internacional, desde os Jogos de Tóquio, em 1964. Pelos direitos de transmissão de 2014 a 2020, inclusive o Rio, pagou US$ 4,38 bilhões, então recorde para os Jogos. Depois, por 2021-32, desembolsou US$ 7,65 bilhões, novo recorde.
Os números da cobertura no Brasil são grandiosos. Será “mais abrangente que qualquer outro evento na história”, segundo Bell, que está em sua terceira Olimpíada como produtor executivo, responsável por programar as 6.755 horas de cobertura –em duas semanas– pelos 11 canais e plataformas digitais do grupo NBCUniversal.
“Sempre dedicamos quantidades maciças de tempo para os Jogos, independente do fuso horário”, acrescentou o executivo, mas, “como agora eles são no Rio, muito da ação será ao vivo” para os EUA.
A transmissão ao vivo será positiva, disse ele, “tanto para a nossa audiência como para os nossos anunciantes”. Deu como prova o fato de ter ultrapassado a barreira de US$ 1 bilhão em publicidade já em março. Na Olimpíada anterior, em Londres, isso só foi acontecer em julho, às vésperas da abertura.
BAIXAS
Questionado sobre as seguidas baixas no elenco de atletas americanos que vêm para os Jogos, como Stephen Curry e LeBron James, hoje os maiores nomes da NBA, Bell respondeu listando aqueles que confirmaram presença.
“Não haverá falta de estrelas no Rio. O ‘Team USA’ vai exibir muitos medalhistas, Michael Phelps [natação], Allyson Felix [velocista], Kerri Walsh [vôlei de praia]”. Entre os não americanos, lembrou o tenista suíço Roger Federer e o velocista jamaicano Usain Bolt, além de Neymar.
Mas as baixas não se restringem aos atletas. A NBC perdeu há um mês a principal âncora de sua cobertura, Savannah Guthrie, apresentadora do “Today Show”, que descobriu estar grávida e desistiu do Rio, por temor de contrair zika.
Sobre saúde e segurança de jornalistas e outros que vai trazer ao Brasil, Bell respondeu ser sua prioridade número 1. “Nós temos vastos planos de segurança”, disse. “Os detalhes são confidenciais”.
GRANDES REDES
A comunicação dos Jogos Olímpicos do Rio elegeu como foco cinco grandes redes abertas com direitos de transmissão, mas o primeiro desafio significativo de imagem veio de uma agência de notícias, a americana Associated Press, com questionamentos à qualidade da água.
“A gente fez um mapeamento e se concentra em NBC, BBC, CCTV, NHK e Globo, que são grandes TVs, são multiplicadores bem poderosos”, diz Mario Andrada, diretor-executivo de comunicação do comitê Rio-2016.
Mas aí “a gente teve uma temporada de água”, afirma Andrada. “A Associated Press contratou uma universidade no Rio Grande do Sul e realizou testes de vírus na baía da Guanabara. Nunca tinham sido feitos. Deram supernegativo e, durante um mês, eles bateram nessa tecla, de que tinham uma verdadeira apuração”, lembra.
“A gente ficou dialogando com eles”, descreve Andrada, mas o tema só foi refluir quando “a Organização Mundial de Saúde declarou que testes de vírus não seriam usados, e sim testes bacteriológicos. Aí a AP deixou de ser uma agência de saneamento e voltou a ser de notícias”.
De acordo com Andrada, “na parte negativa” da cobertura da Olimpíada do Rio, a reportagem da AP sobre a água da baía foi até agora o maior movimento no esforço internacional de relações públicas do comitê Rio-2016.
Correspondentes de outros meios de comunicação admitem que o terrorismo pode impactar a cobertura que planejaram para os Jogos.
Nelson de Sá de São Paulo
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