(Exame, 19/07/2016) Além dos diversos problemas sociais conhecidos como resultado do racismo, ele também pode afetar a saúde.
Vários estudos apontam que o preconceito racial está conectado a doenças cardiovasculares em negros, além de ser a possível causa da depressão, da ansiedade e de outros problemas de saúde em pessoas que são vítimas de racismo.
Alguns estudos científicos evidenciam que esses problemas podem surgir como resultado de uma vida sob o estresse de conviver com a discriminação racial.
Veja a seguir alguns desses trabalhos que analisam a relação entre o racismo e problemas de saúde.
Problemas renais
Um estudo norte-americano mostra que indivíduos que são discriminados pela sua cor têm mais chances de terem falência renal. Os pesquisadores estudaram 1.574 moradores da cidade de Baltimore, nos EUA, durante cinco anos. Desse total, 20% dizem sofrer muito com o racismo e têm maior pressão arterial do que aqueles que afirmam sofrerem menos.
Em entrevista para o site da revista Time, a coautora do estudo Deidra C. Crews disse que a liberação de hormônios do estresse pode levar a um aumento na pressão arterial. Uma das principais causas da falência renal é a elevada pressão arterial.
De acordo com a Fundação Nacional de Rim dos EUA, os afro-americanos sofrem três vezes mais de insuficiência renal do que os brancos. Além disso, os negros norte-americanos constituem mais de 35% de todos os pacientes em diálise por insuficiência renal nos Estados Unidos.
Hipertensão
Um estudo publicado no Jornal da Associação Americana de Saúde Pública mostra que a discriminação racial está ligada a taxas elevadas de hipertensão. Os pesquisadores examinaram quase cinco mil voluntários negros com idades entre 35 e 84 anos que sofreram ou sofrem com racismo.
Eles descobriram que 64% das mulheres e 59,7% dos homens tinham hipertensão. Vale ressaltar que, para chegar a esse resultado, o nível socioeconômico dos voluntários foi adicionado à conta. A associação entre a hipertensão e a discriminação foi ligeiramente enfraquecida devido a dois fatores: índice de massa corporal e fatores comportamentais. Mesmo assim, as taxas de hipertensão continuaram maiores entre os negros.
Doenças mentais
O racismo ainda pode levar à depressão e causar outras doenças mentais. Em um estudo feito na Holanda, 4.800 pessoas foram divididas em dois grupos: um com indivíduos que sofreram com discriminação racial e outro que não. Ambos testaram negativo em exames relacionados a traços paranoides e doenças mentais. No entanto, os pesquisadores descobriram que as pessoas que foram discriminadas eram duas vezes mais propensas a desenvolver sintomas psicóticos nos próximos três anos.
Outra pesquisa revelou que o racismo também está conectado com sintomas graves de estresse pós-traumático. Os pesquisadores analisaram 408 voluntários e notaram que negros que foram discriminados racialmente ou testemunharam atos racistas tinham sintomas mais graves de estresse pós-traumáticos do que outros grupos étnicos.
Políticas públicas de saúde
O negro brasileiro, além de sofrer o racismo nas ruas, também é discriminado no sistema público de saúde. O próprio Ministério da Saúde lançou a campanha “Não fique em silêncio. Racismo faz mal à saúde” que reconhece que o racismo é um determinante social em saúde.
De acordo com números da Pesquisa Nacional de Saúde, de toda a população branca atendida no SUS, 9,5% sentem discriminação, enquanto 23,3% da população negra (pretos e pardos, segundo o IBGE) sai da unidade hospital com o sentimento de preconceito racial.
Marina Demartini
Acesse no site de origem: A ciência explica como o preconceito racial afeta a saúde dos negros (Exame, 19/07/2016)