(Dimalice Nunes/Agência Patrícia Galvão, 11/08/2016) As pesquisas de opinião e percepção estão entre os instrumentos mais eficientes para direcionar campanhas políticas, planos de governo e políticas públicas. “E não importa o recorte: as eleitoras brasileiras são mais críticas em relação às cidades que os homens e o rigor com que avaliam as propostas as leva a decidirem seus votos no último minuto. Mesmo assim, candidatos, partidos, governantes e instituições teimam e fechar os ouvidos para essas vozes”, chama atenção Márcia Cavallari, CEO do Ibope.
As mulheres brasileiras formam 48% da força de trabalho e 52% do eleitorado brasileiro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Desse total, de acordo com dados do Ibope, 75% das mulheres decidem o voto nas últimas 48 horas antes do pleito. “As mulheres decidem as eleições, eleitoralmente somos muito perigosas. Existe uma força real das mulheres que as pesquisas mostram claramente”, avalia Fátima Jordão, socióloga e especialista em pesquisas de opinião e campanhas eleitorais.
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Em 2016, ano de eleições municipais, o olhar crítico que vem das mulheres é ainda mais determinante. Por acessarem com mais frequência os equipamentos urbanos e dependerem dos serviços públicos – transporte, educação, saúde e saneamento – elas vivenciam cotidianamente os dramas da cidade, do deslocamento ao trabalho, à precariedade na oferta de creches, da falta de água à falta de médicos. “São as mulheres que percebem com mais clareza a perda de direito e oportunidades”, garante Márcia Cavallari, para quem estamos agora com a taxa mais alta de percepção nos últimos oito anos de que as liberdades democráticas, direitos sociais, oportunidade e seguridade não estão garantidos. Essa é a sensação de 62% das mulheres ouvidas na pesquisa Latinobarômetro, do Ibope. Em 2007 essa porcentagem era de 54%.
Esse maior senso crítico pesa diretamente também sobre o otimismo ou pessimismo das mulheres em relação ao momento político atual e às administrações municipais. A pesquisa Ibope/Bus de maio de 2016 mostra que 36% das mulheres estão pessimistas com o futuro o Brasil, enquanto 47% das mulheres do País avaliam como ruim ou péssimo o desempenho dos prefeitos de suas cidades. Para 43% dessas mulheres, a saúde precisa melhorar. Para 39% é a educação. “As mulheres são ainda mais críticas nas eleições municipais, justamente pela proximidade que têm com os serviços públicos. Elas entendem o funcionamento da cidade como um todo. Elas são mais críticas porque têm conhecimento de causa. As mulheres vivenciam os problemas, não é discurso. “, explica Márcia.
O pessimismo feminino também aparece em outras pesquisas de percepção. De acordo com o Datafolha, 26% das brasileiras avaliam o Brasil como ruim ou péssimo para se viver, contra 23% dos homens. Na outra ponta, 36% das mulheres enxergam o Brasil como bom e ótimo enquanto 50% dos homens têm a mesma avaliação. “A percepção das mulheres é de má vontade do poder público, o que gera pessimismo. Tudo isso interfere no voto. A maior taxa de eleitores sem candidato está entre as mulheres”, explica Alessandro Janoni, vice-presidente do Datafolha.
Para a corrida pela prefeitura na capital paulista, o Datafolha aponta que 25% das mulheres não têm candidato a cerca de dois meses das eleições. “O recado dessas pesquisas aos candidatos é de que não há espaço para erro. As mulheres, capazes de decidir a eleição, estão atentas”, afirma Alessandro.
Segundo Márcia Cavallari, “a decisão do voto fica para o final, as mulheres querem informação. E essa decisão tende a ser mais pragmática e menos ideológica”.
É por essa ótica que Renato Meirelles, presidente do instituto Locomotiva, acredita que os candidatos devem avaliar as próximas eleições. “A política precisar passar a ser feita pela ótica da demanda, olhando para o que as pessoas realmente precisam. O processo narrativo ainda é feito por homens e para homens. O protagonismo é do político e não do cidadão”, avalia. Segundo pesquisa da Locomotiva, 86% das mulheres não se sentem representadas por nenhum político. “Isso leva os eleitores a serem os coadjuvantes quando deveriam ser os protagonistas”, afirma Meirelles. E justamente pelo fato das mulheres serem mais críticas, elas se sentem ainda menos representadas”, conclui.
Desinteresse pela política
Resultado evidente do descompasso entre o discurso político e a realidade de vida das eleitoras é o desinteresse que as mulheres têm pela política. De acordo com dados do Ibope, 58% das mulheres têm pouco ou nenhum interesse por política como um todo e 57% têm pouco ou nenhum interesse pelas eleições municipais. “Esse número vem do espaço de participação, que é mais limitado. A mulher não se sente representada, não vê caminhos para ocupar esse espaço, não sabe que caminhos são esses”, explica Márcia, do Ibope. “Embora as mulheres tenham conhecimento de causa, sejam mais críticas, elas ainda não sabem como se expressar e como ocupar esses espaços para exigir mudanças, melhoras nos serviços públicos. Ela precisa ser provocada a isso.”
Alessandro, do Datafolha, pondera que esse alto índice de desinteresse pela política formal não pode ser interpretado como desinteresse pelas suas demandas. “Não verbalizar explicitamente o interesse pela política ou pelas eleições não significa ignorar a coisa pública”, ressalta.
Para Renato, os próprio partidos políticos afastam quem vivencia os problemas do debate político, com o uso de um discurso generalista que pouco tem a ver com a vida real das eleitoras. “As questões não são colocadas de uma forma que estimule a reflexão, até o linguajar afasta. É preciso tratar da demanda real para atrair a atenção das eleitoras”, define.