Universidade dos EUA vai facilitar a admissão de descendentes de escravos

01 de setembro, 2016

A Universidade Georgetown, na capital americana, irá facilitar a admissão de descendentes dos escravos que foram vendidos para financiar a instituição no século 19.

(Folha de S.Paulo, 01/09/2016 – acesse no site de origem)

Em 1838, padres jesuítas ligados à universidade venderam 272 escravos, entre homens, mulheres e crianças, para plantações de Louisiana (sul). O montante arrecadado, equivalente a US$ 3,3 milhões (R$ 10,6 milhões) em valores atuais, garantiu a sobrevivência da Georgetown, que está entre as 20 melhores universidades dos EUA.

Estudante da Universidade Georgetown em frente a prédio da instituição

Estudante da Universidade Georgetown em frente a prédio da instituição (Foto: Jacquelyn Martin/Associated Press)

Além de oferecer uma vantagem os descendentes, que terão as mesmas condições preferenciais de admissão concedidas a filhos de ex-alunos da Georgetown, a universidade também atenderá outra recomendação da comissão que examinou seu envolvimento com a escravidão, um pedido formal de desculpas.

“A universidade, apesar das muitas formas com que investiu em recursos nos últimos 50 anos para curar as feridas da injustiça racial, não pediu desculpas”, diz o relatório da comissão, criado em 2015 pela Georgetown e composto de professores, funcionários, alunos e ex-alunos. “Embora possa haver desculpas vazias, palavras de desculpas expressas genuinamente podem fazer a diferença na busca por reconciliação”.

John J. DeGioia, presidente da universidade desde 2001, convocou a comissão no ano passado e desde então tem mantido encontros com descendentes dos escravos vendidos pelos jesuítas em 1838 para tentar reparar as ações de seus antecessores. Em junho ele se reuniu com cerca de 50 deles nos Estados de Washington (noroeste) e Louisiana.

REPARAÇÃO

Outras medidas reparatórias devem ser a criação de um instituto para o estudo da escravidão, um monumento aos escravos explorados pela universidade e a mudança dos nomes de dois prédios da instituição para homenagear um escravo e uma educadora afroamericana que pertencia a uma ordem católica.

“Esperamos que os dois prédios se tornem um lembrete de como nossa universidade desprezaram os altos valores da dignidade humana e da educação em relação ao afroamericanos escravizados e livres nos séculos 18 e 19”, diz o relatório.

Com a iniciativa, a Georgetown dá um passo além no esforço de se penitenciar por seu passado em relação a outras universidades americanas de prestígio envolvidas com a escravidão. Num relatório pioneiro, a Universidade Brown reconheceu em 2006 seus laços com o tráfico de escravos. Num outro exemplo, a direção da Universidade da Virginia, fundada em 1819 pelo terceiro presidente dos EUA, Thomas Jefferson, divulgou um comunicado em que lamenta o uso de escravos. Um dos “pais fundadores” do país e principal autor da Declaração da Independência, que inclui a frase “todos os homens são criados iguais”, Jefferson teve centenas de escravos em suas plantações.

A Universidade Georgetown afirmou que irá “aprofundar” a pesquisa em seus arquivos para ajudar na busca de descendentes. De acordo com o grupo independente Projeto Memória de Georgetown, modelos estatísticos sugerem que pode haver entre 12 mil e 15 mil descendentes vivos dos escravos negociados pela universidade no século 18.

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