Policiais e manifestantes entraram em conflito na noite do dia 21 de setembro na cidade de Charlotte, na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, depois que Keith Lamont Scott, um homem afro-americano de 43 anos, foi baleado e morto por um policial.
A morte de Lamont não foi a única: na semana passada, outro homem afro-americano, Terrence Crutcher, de 40 anos, também foi morto por um policial em Tulsa, no estado de Oklahoma.
A brutalidade policial, e a resposta à ela por grupos como o Black Lives Matter (Vidas de Negros Importam, em tradução livre), colocaram em pauta mais uma vez as questões de raça e policiamento nos Estados Unidos. O site The Conversation tem uma extensa cobertura sobre o assunto e separamos cinco argumentos essenciais entender melhor a questão. Veja:
A violência causa um estrago além do que vemos: Por meio das mídias sociais, milhões de americanos têm acesso a imagens das mortes de afro-americanos. Acontece que a experiência de acompanhar esses acontecimentos tem um impacto profundo no bem-estar dos afro-americanos, especialmente nas crianças. “Elas podem ser impactadas por eventos traumáticos se se identificam com as vítimas, independente de onde estejam”, explica a pediatra Nea Heard-Garris, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. “Pense em como jovens negros de todo o mundo se identificam com esses eventos. Precisamos proteger nossas crianças para que elas não se tornem vítimas indiretas dos ocorridos.”
As mulheres também são vítimas: Para pensar na violência policial contra negros é necessário levar em consideração os efeitos traumáticos e de longo prazo nos que ficam — geralmente as mulheres. “Sabemos por meio das histórias de mulheres negras que perderam seus filhos por conta da violência do Estado que a angústia vagarosa de sobreviver aos acontecimentos as mata gradualmente”, aponta Christen Smith, professora de Antropologia e Estudos Africanos na Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos. “Depressão, suicídio, ataques cardíacos e outras doenças mentais e físicas são apenas algumas das quais as mulheres negras desenvolvem conforme tentam colocar suas vidas de volta nos trilhos após perderem um filho.”
Os policiais também sofrem os efeitos da violência: Um estudo realizado por John Violanti, da Universidade de Buffalo, mostra que policiais correm 69% mais risco de cometer suicídio do que trabalhadores de outras áreas. “As cinco situações mais estressantes para os policiais foram as seguintes, em ordem: exposição à crianças feridas ou mortas; matar alguém em serviço; ver um colega morrer em serviço; a necessidade de usar força ou ser atacado”, escreve Violanti.
Dificuldades para encontrar respostas: Aqueles que buscam soluções são ridicularizados dentro dos departamentos de polícia por seus treinamentos, práticas e cultura. Abordar a forma de lidar com a masculinidade e a disposição agressiva promovida em muitos departamentos pode ser uma forma de reduzir a violência policial. É o que afirma uma pesquisa do professor de direito Frank Roody Cooper, da Universidade Suffolk: “Vale a pena desconstruir o estereótipo do policial ‘machão’, porque diminuiria o potencial de muitos conflitos entre policiais e civis”.
O que significa valorizar vidas?: A brutalidade policial contra negros na era dos direitos civis, como é o que acontece hoje, faz com que as minorias se organizem e se engajem em suas comunidades. “Então o problema em questão é como pegar essa abertura e não só começar a garantir justiça para as vidas perdidas para a violência policial, mas também refletir sobre o que significa valorizar vidas de negros”, afirma o pesquisador de história afro-americana Garrett Felber, da Universidade de Michigan.
*O artigo originalmente foi publicado em inglês no The Conversation.