Cem jovens sequestradas não querem voltar para casa
(O Globo, 18/10/2016 – acesse no site de origem)
Uma semana depois da liberação de 21 meninas de Chibok, na primeira negociação entre o governo nigeriano e Boko Haram, as autoridades da Nigéria pressionam pela soltura de mais 83 jovens, indicou um líder comunitário do país. Preocupa, no entanto, que outras 100 tenham manifestado a vontade de permanecer com grupo terrorista, responsável pelo rapto de mais de 270 colegas de escola, em abril de 2014.
O presidente da Associação de Desenvolvimento de Chibok, Pogu Bitrus, afirmou à Associated Press que as meninas hesitantes podem ter sido radicalizadas pelo Boko Haram ou se sentirem envergonhadas do casamento e dos filhos com os extremistas. A recepção das garotas retiradas do cativeiro prevê tratamento médico e psicológico em um hospital da capital Abuja, administrado pelo Departamento de Segurança Estatal.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) declarou que a libertação de 21 meninas raptadas pelo Boko Haram é uma boa notícia, mas alertou que “a recuperação do trauma será longa e difícil”. A agência da ONU defende que é importante que continue a pressão para que sejam soltas todas as mulheres e crianças sequestradas pelo Boko Haram.
Agências de notícias anunciaram que o grupo libertado na semana passada é parte das mais de 200 estudantes raptadas em abril de 2014, de um dormitório escolar, em Chibok, Nordeste da Nigéria.
‘INÍCIO DE NOVA PROVAÇÃO’
O Unicef revela que trabalha com as meninas e que o seu retorno às famílias e comunidades é o início de uma nova provação marcada pela estigmatização depois de terem sido vítimas de violência sexual.
A agência revela que as comunidades vivem com “medo de que as meninas tenham sido doutrinadas pelo Boko Haram”, e aponta haver risco para as crianças nascidas como resultado da violência sexual. O Unicef destacou que as meninas não devem ser esquecidas e merecem apoio suficiente para reconstruir as suas vidas.
A ação da agência, em parceria com a ONG International Alert e com apoio de doadores, inclui um programa abrangente de assistência à reintegração de mais de 750 mulheres e meninas vítimas de violência sexual do Boko Haram em outras ocasiões.
De acordo com Bitrus, a associação prefere que as jovens sejam educadas no exterior, para fugir do estigma que “provavelmente as acompanhará para o resto da vida”.
— Preferimos que deixem a comunidade e o país porque o estigma as afetará pelo resto da vida — afirmou. — Mesmo a menina que foi violada pelo Boko Haram, será mal vista.
As meninas libertadas se reuniram com os pais no domingo e esperam ser recebidas pelo presidente Muhammadu Buhari na terça-feira ou na quarta-feira. No dia da liberação, Buhari estava em visita oficial à Alemanha.