Superar estereótipos, garantir a regularização migratória e o acesso às políticas públicas são ações necessárias para promover o empoderamento das mulheres no Brasil e atingir a igualdade de gênero. Experiências em São Paulo mostram que uma outra realidade é possível
(MigraMundo, 30/10/2016 – acesse a íntegra no site de origem)
Salários menores nos mesmos cargos, preconceito, dificuldade em chegar aos postos de chefia e o acúmulo do trabalho reprodutivo e não remunerado. Vencer essas barreiras que impedem o empoderamento das mulheres ao redor do mundo e garantir a igualdade de gênero é uma meta das Nações Unidas para 2030 dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O desafio é ainda maior para as mais de 117 milhões de mulheres migrantes ao redor do globo – 320 mil no Brasil – que buscam no trabalho o meio de alcançar uma vida digna para além das fronteiras.
Acabar com a desigualdade de gênero, segundo dados do Fundo Monetário Internacional, tornaria a economia dos países mais rentável. Em algumas regiões do mundo, as perdas em PIB per capita que podem ser atribuídas à desigualdade de gênero no mercado de trabalho podem chegar a 27%. O FMI aponta que as mulheres representam cerca de 50% da população em idade ativa, mas apenas 40% da força de trabalho global, embora a participação feminina tenha crescido nas últimas duas décadas.
No Brasil, a presença das mulheres no mercado de trabalho tem se expandido e os anos de estudo são mais elevados que o dos homens. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2014, realizada pelo IBGE, mostra que as mulheres estudam em média oito anos, frente 7,5 anos dos homens. Mesmo assim, a desigualdade ainda precisa ser superada. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), homens ainda ganham mais do que as mulheres: em 2014, homens tinham o salário médio de R$ 1.831, enquanto as mulheres ganhavam R$1.288. As mulheres negras têm a menor remuneração, com valor médio salarial de R$ 946, e os homens brancos a maior, com média de R$ 2.393.
Desafio da mulher migrante
Juliana Bueno, coordenadora do Cidade 50 50, programa da ONU Mulheres no Brasil que visa fortalecer o debate sobre igualdade de gênero, aponta que a realidade das mulheres migrantes aqui é semelhante a de muitas brasileiras: baixos salários, responsabilidade sobre as tarefas domésticas e de cuidado além do trabalho externo, ou seja, jornadas duplas e até triplas, mas se deparam ainda com outras barreiras pela nacionalidade.
“Elas enfrentam as mesmas dificuldades que mulheres em situação de vulnerabilidade no Brasil, mas agravam sua situação a barreira linguística, o preconceito e a xenofobia, ausência de referências e a ambientação ao novo país. A dificuldade de acesso a políticas públicas universais por causa dessas situações também torna o dia-a-dia mais difícil. Não por acaso, os poucos estudos que temos mostram que essas mulheres que chegam ao país em situação de vulnerabilidade – sem documentos, sem carteira de trabalho, sem falar português – se alocam em serviços de baixa remuneração e condições precárias de trabalho – as oficinas de costura e o emprego doméstico não formal são exemplos disso”.
Por Géssica Brandino e Rodrigo Borges Delfim
Colaboração de Eva Bella e Glória Branco
Traducción al español: Brisia Pina Zavala (leer aquí)