(O Globo) “O preconceito contra as mulheres não acabará porque uma mulher governa o Brasil. O poder continuará por muito tempo majoritariamente masculino no país”, escreve a jornalista Miriam Leitão em sua coluna no jornal O Globo. “As mulheres vêm avançando devagar na política, no mercado de trabalho, nos feudos antes exclusivamente masculinos. Muitas vezes, apesar de todos os méritos, as mulheres serão barradas, como foram no passado. Calma, rapazes. O poder ainda é masculino. Mas não o será eternamente.” Leia a seguir alguns trechos do artigo:
“Uma foto nos jornais da semana passada mostra Dilma num encontro com governadores. Ela está na frente, cercada por um mar de homens, atrás está Ideli Salvatti. A foto informa: as mulheres começam a chegar no poder que é quase inteiramente masculino no Brasil, como em todos os países, alguns mais, outros menos. Tudo está como antes, as mulheres deram apenas um passo à frente.”
“Darão outros. Isso é certo. Mas ao volante, no trânsito, quando homens erram é normal; quando mulheres erram vem a frase: “Está vendo? Só podia ser mulher”. Na política, qualquer erro será comentado com a mesma atitude. Por outro lado, algumas mulheres reagirão às críticas dizendo que são machistas.”
“É erro recusar qualquer crítica como sendo machismo; é erro apostar no fracasso só porque as mulheres comandam a Presidência e alguns ministérios-chave. Elas não darão certo por serem mulheres e terem algum dom especial dado pela condição feminina; nem estão condenadas ao fracasso por serem mulheres. Elas têm o direito de governar, errar e acertar, como todos outros. Há mulheres honestas e desonestas; hábeis e inábeis; capazes e incapazes. Como os homens.”
“O que fica de uma leitura dos jornais, comentários, análises e piadas, em geral de mau gosto, sobre o governo Dilma é a sensação de que se instalou uma república de mulheres no Brasil. O poder ainda é essencialmente masculino aqui. Os homens têm 25 dos 27 governos estaduais; mais de 90% dos mandatos na Câmara; mais de 85%, no Senado; 86% dos cargos de direção nas 500 maiores empresas do país. Mulheres ocupam menos ministérios no Brasil do que no governo de Michelle Bachelet no Chile. No mundo inteiro o poder é essencialmente masculino.”
“A ideia de que exista uma forma feminina de governar é a repetição da visão de que homem é razão, mulher, sentimento; mulher, amor; homem, paixão; mulher é vênus, homem é marte; ou qualquer uma dessas ridículas definições de supostas diferenças que seriam determinadas pelo gênero. Cada pessoa governará com sua capacidade, temperamento, estilo, virtude e defeito que não são condições dadas pelo gênero.”
Veja a coluna na íntegra: Calma, rapazes, por Miriam Leitão (O Globo – 25/06/2011)