Um estudo realizado na Espanha confirmou que a presença do ácido ribonucleico (RNA) do vírus da zika no soro materno de forma prolongada pode ser um indicador de infecção do feto, e, ao mesmo tempo, da presença contínua da doença na mãe.
(Terra, 09/12/2016 – acesse no site de origem)
O trabalho, liderado pela médica Anna Suy, da Unidade de Infecções Perinatais do Serviço de Obstetrícia e pesquisa do grupo de Medicina Materna e Fetal do Vall d’Hebron Institut de Recerca (VHIR), foi publicado pelo New England Journal of Medicine.
A pesquisa é focada no caso de uma mulher grávida, infectada em um dos países da América do Sul afetados pela recente epidemia de zika, durante a nona semana de gestação e que deu à luz um bebê com microcefalia.
Ela testou positivo por zika nas amostras de soro do sangue. O resultado se manteve por 89 dias, ou seja, 107 dias depois do início dos sintomas, na 29ª semana de gestação, embora os testes realizados na urina e na vagina deram negativo.
Segundo os pesquisadores, os testes realizados entre a 12ª e 15ª semana da gestação não revelaram anomalias no feto. Por outro lado, os exames feitos a partir da 20ª semana começaram a indicar problemas no desenvolvimento cerebral do bebê.
Os indícios foram confirmados através dos exames de ressonância magnética realizadas, nos quais o feto não apresentava outras anormalidades. Os testes de vírus da zika no líquido amniótico deram positivo e, de fato, a carga viral nessa amostra foi mais alta do que a encontrada no soro da mãe.
O parto ocorreu na 37ª semana de gravidez, momento no qual os testes de presença de RNA do vírus no soro materno, urina, fluído amniótico, placenta, membranas e cordão umbilical eram negativos.
O recém-nascido, que tinha microcefalia, também deu negativo em todos os testes realizados.
Os autores do estudo apontam que os dados obtidos confirmaram pesquisas anteriores que indicavam a possibilidade que a presença contínua do vírus da zika no sangue da mãe pode ser atribuída à replicação no feto ou na placenta.
Os pesquisadores se basearam no fato de a carga viral no líquido amniótico ser superior à do soro materna e que a presença do vírus se mantivesse estável no sangue da mãe durante 14 semanas para depois cair de forma súbita, não progressiva. Por fim, da presença de anticorpos neutralizados e RNA viral ao mesmo tempo no sangue da mãe.
Ao mesmo tempo, outro indicador é que não se detectou RNA do vírus da mãe, de forma contrária ao indicado pela literatura existente.
Os pesquisadores suspeitam que os resultados negativos nos testes do recém-nascido indicam que a infecção ocorreu durante o pré-natal. Portanto, é possível que o sistema imunológico estivesse capacitado para desenvolver anticorpos da zika antes do nascimento.