“Fora, lésbica!”, “meu pau”, “o que eu tenho a ver com isso?”.
(HuffPost Brasil, 02/01/2017 – acesse no site de origem)
Um casal de mulheres que foi ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro ver uma exposição, na última sexta-feira (30), foi alvo da homofobia em sua forma mais crua.
No Facebook, onde a denúncia foi feita e apoiada por dezenas de pessoas indignadas, uma das mulheres relatou que, próximo a ambas, um homem escreveu “meu pau” em um mural aberto à interação do público. Ele estava acompanhado de uma mulher que, de acordo com a denúncia, é sua namorada e funcionária do CCBB.
“Ficamos sem acreditar que funcionários fariam isso (nessa hora estávamos achando que ele também trabalhava lá)”, escreveu.
Elas apagaram a mensagem após os dois deixarem o ambiente, mas a agressão continuou: o homem voltou à sala para observar o casal e, quando este decidiu ir embora, passou novamente diante do quadro e viu uma nova mensagem escrita nele: “Fora, lésbica!”.
“O tempo inteiro que escrevia a reclamação ele ficou a menos de um metro de mim rasgando os papéis da caixa. Todos presenciaram a cena e nada fizeram, mesmo quando pedimos alguma intervenção (ao menos tirar o cara de perto da caixa).”
No relato, que já conta com mais de 30 mil curtidas, ela diz que não houve agressão física, mas foram perceptíveis as tentativas de intimidação e humilhação. Ao conversarem com o homem e a funcionária da instituição, ela reagiu dizendo “o que eu tenho a ver com isso?”.
“Sou hostilizada em vários lugares, mas acreditava que o CCBB era um espaço seguro”, escreveu. “Todo dia um LGBT é morto [no Brasil] e algumas pessoas simplesmente se sentem à vontade para nos agredir.”
Nos comentários, dezenas de pessoas pressionaram o centro a tomar uma posição com agilidade e criticaram o treinamento dos funcionários.
Em nota no Facebook, o centro afirmou que tem “total repúdio” ao ocorrido, pois “contraria os valores e o trabalho educativo e afirmativo que a Instituição vem realizando ao longo da sua história contra a intolerância e a favor da diversidade étnica, sexual, de gênero e religiosa”.
O centro diz na postagem – na qual funcionários aparecem diante do mesmo quadro, desta vez com a frase “#CCBB contra a homofobia” escrita – que investiga internamente o episódio e tomará “todas as medidas legais e judiciais cabíveis com a firmeza que a situação descrita exige”. A mulher em questão é funcionária terceirizada e já foi afastada.
O episódio vivido pelo casal é mais um exemplo de que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero deve ser criminalizada com urgência no Brasil.
No entanto, o atual cenário político não sinaliza que os poderes agirão neste sentido.
Em recente entrevista ao HuffPost Brasil para uma retrospectiva LGBT no País, Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), e Keila Simpson, presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), defendem que o Legislativo e o Executivo se encontram em formação conservadora demais para criminalizar a homofobia, uma das causas mais defendidas pelo movimento.
“No Legislativo, a gente está paralisado. No Executivo, só recentemente ganhamos uma coordenadora. Então a gente aposta muito no Supremo Tribunal Federal”, disse Magno, referindo-se a quatro ações que estão no STF e podem ser conquistas para os LGBT brasileiros.
Simpson disse que vivemos um paradoxo: apesar de avanços na causa transgênero, a discussão de várias pautas está pendente, pois ainda há muitos assassinatos de pessoas trans.
“A sociedade determina o que é bom ou ruim para o outro. Falta o respeito pelo direito à individualidade. A gente precisa respeitar o outro, esperando que a sociedade compreenda que as pessoas são felizes como elas são. Mesmo que eu não concorde, tenho que respeitar.”