Aqui estão trabalhos de visualização de dados que tentavam combater o racismo. E quem foi o estudioso por trás deles
(Nexo, 13/12/2017 – acesse no site de origem)
Apenas 35 anos após a abolição da escravatura nos Estados Unidos, em 1900, o sociólogo e ativista negro William Edward Burghardt Du Bois (conhecido como “W.E.B.” Du Bois) apresentou na Exposição Universal de Paris uma série de gráficos e também fotografias sobre como os afro-americanos viviam na virada para o século 20.
A feira apresentou ao mundo novidades como a eletricidade, a exibição dos primeiros filmes rodados pelos Irmãos Lumière e a inauguração da primeira linha do metrô da capital francesa. Entre os 80.000 expositores, Du Bois pretendia, com a colaboração dos parceiros Thomas J. Calloway e Daniel Murray, apresentar contribuições de pessoas negras aos EUA e descrever os avanços em seu modo de vida desde a abolição.
Sua maneira de apresentar as informações levava em conta uma visualização de dados moderna para a época: o estudo de Du Bois, chamado de “O Negro da Geórgia”, Estado do sudeste dos Estados Unidos, contava a história dos descendentes de escravos do Estado por meio de 60 infográficos desenhados e pintados a mão pelos estudantes do sociólogo na Universidade de Atlanta.
Nos infográficos, ele trazia dados sobre população negra urbana e rural, número de estudantes negros matriculados nas escolas, propriedade pertencentes aos negros, mistura racial, mortalidade, analfabetismo e outros. A coleção completa de infográficos, digitalizada pela biblioteca do Congresso americano em 2014, pode ser acessada aqui.
O que Du Bois tinha em mente era incentivar seus alunos a combaterem o racismo com dados empíricos. Ele acreditava, segundo escreveu a professora do Instituto de Arte de Chicago Shawn Michelle Smith, ser possível refutar a crença de que afro-americanos eram “naturalmente” inferiores aos anglo-americanos, propagada pelas teorias evolucionistas da época.
Quem foi ‘W.E.B.’ Du Bois
Du Bois nasceu em Massachusetts em 1868. Estudou na Universidade Fisk, instituição americana voltada para negros, na Universidade Humboldt, em Berlim, e, de volta aos EUA, em Harvard, onde foi o primeiro afro-americano a obter um doutorado.
Tornou-se professor de história, sociologia e economia na Universidade de Atlanta em 1897 e publicou, dois anos mais tarde, seu primeiro grande trabalho acadêmico, “The Philadelphia Negro” (O Negro da Filadélfia, em português, disponível para download em inglês), um estudo sociológico detalhado sobre as pessoas afrodescendentes da Filadélfia.
Juliana Domingos de Lima