NEGRAS NO 8 DE MARÇO:
POR NOSSAS VIDAS
CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA
DENUNCIANDO A REFORMA DA PREVIDÊNCIA DO TEMER
Neste 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, nós mulheres negras de São Paulo, nos somamos a todas mulheres negras do Brasil e do mundo, para tomar o espaço público, e lembrar que os nossos passos vêm de longe, e para resgatar a nossa humanidade dilacerada pelo racismo, pelo patriarcado, pela LGBTfobia e todas as formas de preconceito e discriminação.
Somos adolescentes, jovens, adultas, idosas, heterossexuais, lésbicas, transexuais, travestis, bissexuais, mulheres com deficiência, das favelas, subúrbios, sem-teto, trabalhadoras domésticas, prostitutas, artistas, empresárias, intelectuais, artesãs, catadoras de materiais recicláveis, yalorixás, pastoras e evangélicas, agentes pastorais católicas, mães de crianças assassinadas, estudantes, comunicadoras, e muitas mais.
Somos as mulheres negras de São Paulo que ajudaram a construir a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver, que levou a Brasília cerca de 50.000 mulheres fazendo ecoar nossas vozes por todo o Planalto Central, representando as 49 milhões de mulheres negras brasileiras.
No momento em que o Brasil como um todo atravessa uma grave crise política, com o desmantelamento de políticas públicas duramente conquistadas, com desmandos por parte de um governo não eleito, com escandalosas denúncias de corrupção em todas as esferas dos governos federal, estadual, municipal e empresas, nós negras de São Paulo trazemos para toda a sociedade questões que nos afetam diretamente e que queremos ver enfrentadas por todas as pessoas que acreditam num novo projeto de nação.
Se a proposta da “Reforma” da Previdência vai afetar milhões de trabalhadoras e trabalhadores, o que dizer das mulheres negras, maioria nos setores precarizados e na prestação de serviços, como limpeza, cozinha, telemarketing reciclagem e outros?
O que dizer das empregadas domésticas que só depois de muita luta conquistaram seu status de trabalhadoras e que nunca vão conseguir atingir a tão sonhada aposentadoria e o direito ao merecido descanso após anos e anos trabalhando em casas de família, sujeitas a todo tipo de desgaste físico e humilhações? A PEC das Domésticas que tanto comemoramos será invalidada com essa “Reforma” da Previdência. Nenhuma mulher conseguirá comprovar 25 anos de contribuição.
O que é necessário fazer, além das palavras de ordem, sobre o genocídio da juventude negra em curso pela violência da polícia do Estado? E sobre a “guerra às drogas” que vem se efetivando como política de criminalização da juventude e não de enfrentamento efetivo ao narcotráfico?
O que dizer às mães, companheiras, filhas, irmãs mulheres vítimas diretas desses assassinatos, e que além da dor da perda tem que arcar com todo o custo dessa violência?
Quando vamos nos mobilizar contra a seletividade do sistema penal e do Judiciário, que criminalizam e encarceram a população negra, e em especial a mulher negra, cujos índices de cárcere aumentaram em 246% na última década?
O que deve ser feito para coibir o discurso de ódio que incentiva a violência e o assassinato de trans, travestis, lésbicas e bissexuais em nome de uma falsa moral e dos “bons costumes”?
Como explicar o fato dos assassinatos contra mulheres negras terem aumentado 54% nos últimos dez anos, apesar da Lei Maria da Penha ter contribuído para a diminuição da violência contra a mulher?
O que dizer sobre o racismo institucional que provoca milhares de mortes evitáveis de mulheres negras por falta de atendimento nas maternidades e pela criminalização do aborto?
O que dizer do racismo nos meios de comunicação e na publicidade que tratam as mulheres negras como objetos?
Nossa dor cabe neste 8 de março?
Neste dia incentivamos que as mulheres negras possam aderir ao Paro Internacional, mas pontuamos que para nós mulheres negras não é fácil parar.
Será que as trabalhadoras domésticas, maioria negras, terão apoio das patroas, incluindo as feministas, para participar da mobilização deste 8 de março? Será que o movimento sindical brasileiro e as centrais sindicais garantirão que as mulheres dos setores mais precarizados (terceirizadas, trabalhadoras de telemarketing etc.) tenham o apoio para cruzar os braços?
Engrossamos o coro pelo Fora Temer e contra o desmonte da Previdência sim, por serem assuntos que nos atingem brutalmente, mas estamos atentas pelo momento onde nossas dores e a ausência de nossos direitos também serão objetos de preocupação nacional.
Se o racismo e as violações dos nossos direitos nos provocam situações de dores, de falta de condições de vida adequadas, estamos dizendo à sociedade que não somos as “coitadinhas”. Não basta ser antirracista e antissexista no discurso, exigimos ação! Não queremos estar presentes nas pautas dos movimentos sociais como “as que sofrem mais”. Somos muito mais que isso.
Somos do lar, das comunidades, das ruas, ousadas e nada recatadas; guerreiras como ensinaram nossas ancestrais, nossas avós, nossas mães e tantas outras mulheres que vêm lutando antes de nós.
Neste 8 de Março de 2017 ocupamos os espaços para fazer ouvir a voz das mulheres negras, organizadas ou não, que lutam cotidianamente pelo direito à vida de todas e todos, com saúde, alegria e dignidade.
Seguimos firmes sob a proteção das nossas ancestrais! Junte-se a nós!
Uma sobe e puxa a outra!
Facebook: @mmnegrasSP