O Departamento de Trabalho dos Estados Unidos acusa a gigante de discriminação “extrema” nos salários
Na sexta-feira o Governo dos Estados Unidos pousou o olhar sobre o Google, apontou o dedo e desatou a polêmica: a multinacional foi acusada de “desigualdades sistêmicas nos salários”. Uma investigação do Departamento do Trabalho compilou informações que indicam a violação das leis trabalhistas federais quanto à diferença nos salários de homens e mulheres. E são elas, obviamente, as que recebem menos, segundo o órgão.
(El País, 13/04/2017 – acesse no site de origem)
O Google nega taxativamente que entre seus funcionários exista tal brecha salarial e afirma que até o momento da declaração de Janette Wipper não haviam tido notícias dessa acusação. Wipper, que falou em uma audiência em San Francisco em 7 de abril, afirmou que haviam encontrado “disparidade sistêmica na compensação salarial em detrimento das mulheres em praticamente todos os níveis de trabalho”, de acordo com informações publicadas por The Guardian nessa mesma noite.
A advogada Janet Herold, também integrante da investigação governamental, acrescentou que, embora a avaliação ainda não tenha sido concluída, há provas convincentes de uma discriminação “bem extremada”, até mesmo para um setor tão masculinizado como o tecnológico. Segundo o último informe da consultoria PwC, as mulheres ocupam menos de 29% dos postos de trabalho nessa área e só representam 9% quando se fala de postos executivos. E a coisa piora quando se faz uma análise específica. Um estudo realizado pela Glassdoor em março de 2016, Demystifying the Gender Pay Gap, revelou que a programação era o trabalho com mais desigualdades de gênero nos Estados Unidos (ao lado de outras profissões, como a de chefs e dentistas): até 28% menos no salário, fazendo o mesmo trabalho, tendo o mesmo nível de estudo, a mesma idade e até os mesmos anos de experiência.
Esta acusação vem à tona como parte de uma inspeção rotineira do Departamento do Trabalho. O Google, por ter contratos com o Governo dos EUA, é obrigado a propiciar as informações que o Estado lhe pedir em cada caso. Em 2016, o departamento de programas federais de cumprimento de contratos pediu dados sobre o histórico de trabalho e o salário dos empregados dessa multinacional prestes a completar 20 anos. No entanto, o Google se negou em várias ocasiões a fornecer essas informações, alegando que já havia entregado “centenas de milhares de registros” e que tal quantidade de dados pedidos lhe parecia excessiva, já que se chocava com a confidencialidade e violava a privacidade de seus funcionários.
Uma intimidade que, em nível geral, é revelada todos os anos pelos dados do censo dos Estados Unidos. Na Califórnia, por exemplo, a brecha salarial chega a 79 bilhões de dólares (248 bilhões de reais) anuais. Em declarações a The Guardian, o Google aludiu à análise que faz anualmente, completa e exaustiva, da remuneração de seus funcionários: “Não encontramos diferenças salariais. Estamos veementemente em desacordo com a reclamação [do Departamento do Trabalho]”. Os advogados desse departamento pediram que o Governo cancele todos os contratos que possuem com a multinacional e bloqueie qualquer projeto futuro se esta se negar a cumprir o determinado pela auditoria.
“Nosso foco na igualdade salarial”
Em 11 de abril, Eileen Naughton, vice-presidenta de recursos humanos do Google, publicou um post no blog oficial, intitulado Nosso Foco na Igualdade Salarial, no qual explica que a equidade na remuneração é um problema enorme, não só para as empresas do Vale do Silício, mas para toda a indústria norte-americana. “É importante para nós que os homens e as mulheres que se unem ao Google para fazer o mesmo trabalho sejam pagos no mesmo nível.” A empresa não quer fazer mais declarações além desse artigo e, para qualquer pergunta, indica-o como a posição oficial.
O texto ressalta que a empresa faz análises anuais “rigorosas” para que suas práticas salariais coincidam com seu compromisso de igualdade e explica que essa investigação se baseia no mesmo intervalo de confiança que se utiliza nos exames médicos (mais de 95%). “Ficamos muito surpresos de ser acusados de não pagar às mulheres de forma justa. Esta afirmação chegou sem nenhum tipo de dado que a apoiasse nem metodologia.”
De acordo com a vice-presidenta de recursos humanos, esse sistema para conseguir uma retribuição justa para todos os empregados é testado também por outras empresas por meio da orientação que publicaram e que pode ser consultada pelo re: Work (um blog do Google que reúne ideias, pesquisas e procedimentos para melhorar, por exemplo, a produtividade no ambiente de trabalho).
Esse método, segundo a empresa, é “cego” em relação ao sexo do empregado, já que os analistas que todo ano revisam os salários e propõem um novo valor (em função do posto, do nível, da localização e das qualificações de produtividade) “não têm acesso aos dados de gênero”. No final de 2016, a multinacional realizou seu último estudo, no qual abordou 53 categorias diferentes e diz que não encontrou essa diferença salarial de que o Governo agora a acusa. “Esperamos trabalhar com eles para resolver este problema e ajudar na missão de melhorar a igualdade salarial entre os prestadores de serviço federais. E esperamos demonstrar a solidez da proposta do Google quanto à essa equidade.”