Dados de nascimentos na cidade de São Paulo apontam para uma queda a partir de julho de 2016 em comparação ao mesmo período dos anos anteriores. Segundo o economista Alexandre Chiavegatto Filho, coordenador do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da Faculdade de Saúde Pública da USP, vários fatores podem estar envolvidos na mudança. Mas, para ele, tudo indica que o temor que surgiu cerca de 9 meses antes, devido ao aumento de casos de microcefalia relacionada à zika no Nordeste, tenha sido um fator importante para a queda.
Chiavegatto fez um gráfico com base em dados divulgados recentemente pela Secretaria Municipal de Saúde da Prefeitura de São Paulo que evidencia a tendência. Em julho de 2015, por exemplo, nasceram 14.570 bebês. Já em 2016, foram 13.896 nascimentos. Ele destaca que as informações se referem a uma cidade relativamente pouco afetada pelo vírus da zika. “Os resultados para o Brasil para 2016 devem sair no início de 2018 e serão com certeza ainda mais impactantes, principalmente no Nordeste.”
O aumento de casos de bebês com microcefalia começou a chamar a atenção de médicos no Nordeste do país em setembro de 2015. Em outubro, a imprensa passou a noticiar a tendência e, em novembro, o Ministério da Saúde declarou estado de emergência no país por causa do problema. Na época, a relação com o vírus da zika ainda era uma suspeita, que foi posteriormente confirmada por cientistas.
O boom de microcefalia levou muitos casais a adiar os planos de gravidez, segundo o relato de especialistas em fertilidade de várias regiões do país.
Segundo cálculo de Chiavegatto, a partir de julho de 2016, São Paulo teve cerca de mil nascimentos a menos por mês em relação ao ano anterior. “Acho importante deixar claro que pode obviamente ter havido outros fatores que tenham contribuído para a queda, mas a coincidência é motivo de interesse.”
O pesquisador relata que o fenômeno pode ter consequências econômicas importantes e que o Brasil já tem passado por uma queda brusca da fecundidade nas últimas décadas, passando de 2,4 filho por mulher em 2000 para 1,9 em 2010. “Dependendo dos resultado de nascimentos para o resto do Brasil, essa queda pode acelerar ainda mais.”