Mesmo crescendo em um ritmo maior, o nível da qualidade de vida da população negra no Brasil está uma década atrasado em relação ao dos brancos. É o que mostra o mais recente estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – órgão da ONU – em parceria com a Fundação João Pinheiro e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Segundo o documento “Desenvolvimento Humano para Além das Médias”, divulgado nesta quarta-feira, entre 2000 e 2010 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da população negra cresceu, em média, 2,5% ao ano, acumulando alta de 28% no período, frente aos 1,4% anuais dos brancos ou 15% em dez anos. Mas, apesar do ritmo mais acelerado, só em 2010 o IDHM dos negros alcançou a pontuação (0,679) que já havia sido atingida pelos brancos dez anos antes (0,675).
(O Globo, 10/05/2017 – Acesse o site de origem)
O desenvolvimento humano dos brancos em 2010 já estava em 0,777. Era 14,42% maior que os dos negros, ainda que essa diferença tenha diminuído em relação a 2000, quando o IDHM dos brancos era 27,1% superior. O indicador varia de zero a 1 – onde quanto mais próximo de 1, melhor o IDHM – e mede a qualidade de vida para além da renda, ao levar em conta indicadores de saúde e educação.
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Todas as três dimensões que compõem o índice apresentaram avanços nessa década. No caso da população negra, a maior contribuição para o crescimento do IDHM veio da educação, com uma alta média anual de 4,9%. A educação também foi a dimensão que mais avançou no IDHM da população branca, mas com taxa anual média de crescimento inferior, de 2,7%.
Leia aqui a íntegra do estudo “Desenvolvimento Humano para além das médias”
RENDA DOS BRANCOS É MAIS DO QUE O DOBRO DA POPULAÇÃO NEGRA
Com relação a renda, o estudo mostra um abismo entre os dois grupos. Em 2010, a renda domiciliar per capita média da população branca era mais que o dobro da população negra: R$1.097,00 ante R$ 508,90. Quanto à escolaridade da população adulta, 62% da população branca com mais de 18 anos possuía o fundamental completo, ante 47% da população negra. A diferença na esperança de vida ao nascer entre brancos e negros era de 2 anos, respectivamente 75,3 anos e 73,2.
SÓ EM SEIS ESTADOS NEGROS E BRANCOS TÊM IDHM SEMELHANTE
A ONU classifica o IDHM numa escala que vai de muito baixo (0 a 0,499) a muito alto (a partir de 0,800). Em 2010, em apenas seis estados brancos e negros estavam num mesmo patamar de desenvolvimento humano (em RR, MT, GO, SC e ES era alto em em AL baixo para ambos os grupos).
Em sete estados mais Distrito Federal, os negros tinham desenvolvimento humano considerado alto. Nos 19 estados restantes, era médio. Para a população branca, dois estados mais o DF estavam na faixa de muito alto desenvolvimento humano, 23 em alto e 2 na faixa de médio desenvolvimento humano.
As maiores diferenças percentuais entre o IDHM da população branca e negra, em 2010, foram observadas no Rio Grande do Sul (13,9%), Maranhão (13,9%) e Rio de Janeiro (13,4%). Já as menores diferenças percentuais estavam no Amapá (8,2%), Rondônia (8,5%) e Sergipe (8,6%).
A maior redução na diferença entre o IDHM dos brancos e negros, entre 2000 e 2010, foi observada em Santa Catarina (-0,047). Em contrapartida, Roraima apresentou aumento de 0,033 na diferença entre o IDHM de brancos e negros, de 2000 a 2010.
EM NENHUM MUNICÍPIO ANALISADO NEGROS TÊM IDHM MUITO ALTO
Também foram analisados indicadores de qualidade de vida de 111 municípios brasileiros. A população branca possuía IDHM muito alto em 50 municípios, enquanto a população negra não havia alcançado esse grau de desempenho em nenhum deles. A desigualdade entre brancos e negros, em relação a qualidade de vida, é maior em Porto Alegre (RS), onde IDHM da população negra foi 18,2% inferior ao IDHM da população branca. Em contrapartida, a menor diferença foi observada em Ribeirão das Neves (MG), onde o IDHM da população negra era 3,1% inferior ao IDHM da população branca.
Assim, o IDHM da população branca variou entre 0,701 (Ribeirão das Neves-MG) e 0,904 (Vitória-ES), e da população negra entre 0,654 (Caruarú-PE) e 0,790 (Vitória-ES).
Na dimensão esperança de vida ao nascer, os dados variam de 73,1 anos (Maceió) a 79 anos (Uberlândia) para a população branca, ao passo que, para a população negra, foi de 71,8 anos (Marabá) a 77,8 anos (Blumenau).
Na dimensão educação, o IDHM-E oscilou entre 0,614 (Viamão-RS) e 0,890 (Vitória-ES) para a população branca, e entre 0,505 (Pelotas-RS) e 0,745 (Vitória-ES) para a população negra. Por fim, na dimensão de renda, a renda domiciliar per capita média variou de R$ 469,00 (Caucaia-CE) a R$ 2.700,00 (Vitória-ES) para a população branca, e de R$ 345,00 (Caucaia-CE) a R$ 1.174,00 (Brasília-DF) para a população negra.