Estatísticas da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) mostram que o interior do Estado, que concentra 23,5 milhões de habitantes, registra até cinco vezes mais casos de violência contra a mulher em relação à capital, com seus 12 milhões de moradores. Em Jundiaí, o número de ocorrências registradas na Delegacia da Mulher dobrou nos três primeiros meses de 2017 em relação ao ano passado.
(Jornal de Jundiaí, 23/05/2017 – Acesse o site de origem)
O dado que mais chama a atenção é o de tentativa de homicídio. Em 2016, a capital registrou 3,5 casos por mês, enquanto no interior, essa média foi de 17,9 ocorrências mensais, número cinco vezes maior. Nos três primeiros meses deste ano, os números são ainda mais preocupantes: foram registradas 2 tentativas de homicídio por mês contra mulheres na capital ante 16,3 no interior, oito vezes maior.
Para Marisa Sanematsu, diretora do Instituto Patrícia Galvão, especializado na produção de notícias e conteúdos sobre os direitos das mulheres brasileiras, ainda há uma cultura forte de preconceito e machismo, principalmente no interior. Aliado a isso, muitas cidades pequenas não têm uma rede de adequada de acolhimento para a mulher que sofre qualquer tipo de violência.
“No interior é comum o município não ter uma delegacia especializada, nem canais de denúncia, enfim, não há portais de saída para essa mulher. Sem isso, ela permanece mais tempo nesse ciclo de violência, que pode se agravar até o extremo, o feminicídio”, frisa. Marisa destaca ainda a falta de recursos e investimento em políticas públicas voltadas para a defesa da mulher nos pequenos municípios do interior. “Não há delegacia da mulher, nem representantes capacitados para atender e acolher casos de violência. É uma situação difícil.”
Vinte queixas por dia – Em Jundiaí, o último caso de feminicídio registrado foi em janeiro deste ano. Uma mulher de 36 anos foi morta pelo companheiro. A brutalidade chamou a atenção, inclusive, da delegada da mulher, Maria Beatriz Curio de Carvalho. O homem, inconformado com o fim do relacionamento, atropelou, deu ré e passou por cima do corpo da vítima. Neste ano, o número de ocorrências dobrou em relação ao ano passado na cidade. Segundo a delegada, a média de atendimentos é de 20 por dia. No ano passado, eram 10 queixas diárias. Sem contar que muitas mulheres em situação de violência ainda resistem em procurar ajuda.
Delegada da Mulher, Maria Beatriz Curio lamenta a cultura do machismo/ Cristina Hautz
A delegada pondera que o número de ocorrências de violência contra a mulher pode ser maior no interior justamente devido à delegacia ser mais acessível para as vítimas. “As estatísticas são maiores porque há mais registro de ocorrências. As mulheres procuram mais a delegacia”, acredita. Além disso, ela destaca que cidades como Jundiaí, mesmo localizadas no interior, oferecem melhor qualidade de vida e têm disponíveis mais equipamentos para o atendimento dessas mulheres, o que reflete nas estatísticas.
Outro ponto importante destacado por Beatriz é a cultura do machismo. Muitos homens ainda têm dificuldade de aceitar a liberdade da mulher, seja no fato de ela trabalhar fora ou mesmo de sair sozinha. “Muitos ainda pensam que podem determinar o comportamento de sua mulher ou namorada. E quando ela não reage como ele quer, ele parte para a agressão. Infelizmente, é a cultura machista e está enraizada nas pessoas.” Em Jundiaí, mulheres em situação de violência doméstica podem procurar a DDM (av. 9 de Julho, 3.600, tel. 4521-2024) ou a Defensoria Pública (rua Marechal Deodoro da Fonseca, 646, telefone 4521-1230).