No trabalho, quantas vezes você já foi interrompida por um colega ou pelo chefe? Já tentaram te explicar um assunto óbvio ou do qual você é a especialista? Suas ideias já foram roubadas? No meio de uma argumentação, perguntaram se você estava na TPM? Se você disse “sim” para ao menos uma dessas perguntas, já enfrentou o machismo corporativo.
(UOL, 22/08/2017 – acesse no site de origem)
Apesar de reforçar as diferenças de gênero, nem sempre é fácil de identificá-lo no dia a dia. Naturalizado, ele se dá muitas vezes de maneira sutil no trabalho. Porém, se reproduz em larga escala e tem até nomes próprios: mansplaining, manterrupting, bropriating, gaslighting.
Jorgete Leite Lemos, diretora de Diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil), diz que comportamentos machistas costumam ser conduzidos por alguns perfis específicos. “Normalmente, são homens que não foram ensinados a dividir tarefas com mulheres, que criticam colegas que ocupam posições vistas como exclusivamente masculinas, que acham que muitas facilitam o assédio”, conta. “É preciso rever esses valores e isso deve começar com quem está no comando das empresas.”
O que é a Teoria do Brilho?
A situação é tão comum que já chegou a afetar as mulheres da equipe de Barack Obama, durante os seus mandatos de presidente dos EUA. Cansadas de serem ora interrompidas, ora ignoradas, elas decidiram adotar a “Shine Theory” (Teoria do Brilho), uma estratégia de amplificação de vozes cunhada pela jornalista norte-americana Ann Friedman.
Na prática, consiste em promover uma aliança das mulheres no ambiente corporativo –a tão falada sororidade– para que consigam brilhar. E foi isso o que as assistentes da Casa Branca fizeram. Toda vez que uma colega se manifestava nas reuniões, a outra fazia questão de repetir suas sugestões e opiniões dando os devidos créditos à autora.
O resultado veio. No segundo mandato, os encontros oficiais contaram com uma maior presença feminina, assim como alguns dos cargos mais importantes do governo passaram a ser ocupados por elas. Susan Rice, por exemplo, assumiu o Conselho de Segurança, enquanto Penny Pritzker foi anunciada como secretária do Comércio.
A 80 anos da igualdade
“Segundo as previsões, a equidade no ambiente de trabalho ainda vai levar 80 anos para ser estabelecida. Ou seja, teremos mais duas gerações no comando”, conta Jorgete. “Por isso, não podemos ficar retraídas.
As mulheres podem e devem reivindicar sempre seus direitos, quanto a desempenho, atualização salarial e respeito profissional. E as empresas precisam ter um quadro de funcionários cada vez mais equilibrado. A mão de obra feminina agrega competência e talento à equipe.”
As 4 formas mais comuns de machismo no trabalho
1. Ouvir explicações óbvias ou “mansplaining”
O termo em inglês vem da junção entre “man” (homem) e “explaining” (explicar). E nada mais é do que quando o colega de trabalho tenta esclarecer questões óbvias ou ensinar algo sobre um assunto do qual você entende muito bem –às vezes, usando dados e fatos incorretos. O objetivo? Tratá-la com inferioridade.
2. Ser interrompida durante a fala ou “manterrupting”
É quando uma mulher, em uma reunião ou apresentação profissional, não consegue concluir sua fala em meio a tanta obstrução masculina. De tão comum, acabou virando até aplicativo de celular, batizado de “Woman Interrupted”. Por meio da frequência de voz, ele é capaz de identificar quantas vezes um homem corta a fala de uma mulher. “Afinal, do que adianta ter mais mulheres em uma sala de reunião se ninguém escuta o que elas têm a dizer?”, questiona Gal Barrares, criadora da plataforma.
3. Ter ideias roubadas ou “bropriating”
Quase como uma continuidade das duas situações anteriores, ela se dá quando o homem assume para si a palavra de uma colega silenciada e recebe todos os louros por ela. Exatamente por isso, a Diretora de Operações do Facebook e autora do livro “Faça Acontecer” (ed. Companhia das Letras) convida as mulheres a serem cada vez mais enfáticas e assertivas ao assumirem seus lugares em uma reunião de negócios.
4. Ser abusada emocionalmente ou “gaslighting”
“Está de TPM?”; “Você sempre dá piti”; “Cadê o seu senso de humor? Era só uma brincadeira”; “Para de ser louca.” Frases como essa são muito comuns quando o que está em jogo é a manipulação psicológica. O objetivo é só um: fazer todos pensarem que aquela funcionária não é capaz ou está fora de si. Como consequência, ela perde autonomia e autoridade.
Daniela Carasco